A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

cortinados cheios de pó, copos e pratos de plástico numa cozinha em estado de
sítio. O fedor dos quartos lembrava-lhe a residência universitária em Dartmouth.
Wheaton abastecera o frigorífico com carnes frias e cerveja encomendadas à loja
Sainsbury's. Michael tomou uma ducha e vestiu uma muda da roupa nova. Quando
voltou à sala, os agentes comiam sanduíches e viam futebol inglês numa televisão
de imagem instável. A cena tinha algo que o deprimia. Precisava de telefonar a
Elizabeth, em Nova York, mas sabia que iriam brigar, algo que não queria fazer com
a Agência à escuta.
─ Vou sair ─ anunciou Michael.
─ O Wheaton diz que tem de ficar aqui ─ avisou um dos homens, com a
boca cheia de presunto, queijo cheddar e pão francês.
─ Não quero saber daquilo que o Wheaton diz. Não vou passar a noite aqui
sentado com dois palhaços. ─ Michael fez uma pausa.
─ Muito bem, podemos ir juntos, ou posso livrar-me de vocês em cinco
minutos, e depois explicam ao Wheaton o que se passou.
Seguiram de carro até Belgravia e estacionaram à frente da casa dos
Seymour, em Eaton Place. Os guardas esperaram no seda" da Agência. A rua
brilhava com a chuva e com a luz das fachadas de marfim do terraço georgiano.
Pelas janelas, Michael pôde ver Helen na cozinha, concentrada no desastre
culinário dessa noite, e Graham no andar de cima, na sala, a ler o jornal. Percorreu
os degraus, molhados da chuva, e bateu à vidraça da porta da cozinha. Helen veio
abrir e beijou-lhe a face.
─ Que surpresa maravilhosa ─ exclamou.
─ Importas-te que venha incomodar?
─ É claro que não. Estou a fazer bouillabaisse.
Tens que chegue para mais um? ─ perguntou Michael, com o estômago
instintivamente a dar uma volta.
─ Mas é claro, meu querido ─ ronronou Helen. ─ Vai lá acima beber alguma
coisa com o Graham. Este atentado em Heathrow deixou-o muito perturbado. Ai,
meu Deus, foi uma coisa tão horrível.
─ Eu sei ─ garantiu Michael. ─ Infelizmente, estava lá.
─ Estás a brincar! ─ exclamou Helen. Depois olhou para a expressão de
Michael. ─ O, não estás a brincar, pois não, Michael? Estás com um ar terrível,
coitadinho. A bouillabaisse vai fazer-te sentir melhor.
Quando Michael entrou na sala, Graham ergueu o olhar.
─ Ora vejam só, o herói de Heathrow. ─ Pousou o The Evening Standard,
cuja manchete proclamava TERROR NO TERMINAL QUATRO.

Free download pdf