A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

Uma travessa com brie e com patê estava em cima da mesa de centro, ao
lado de uma fatia grossa de pão. Graham já devorara metade. Michael barrou um
pedaço de pão com queijo e olhou desconfiado para o patê.
─ Não te preocupes, meu caro. Comprei-o numa loja de Sloane Square. Ela
tem vindo a ameaçar que vai aprender a fazê-lo em casa. Não tarda muito vai
começar a cozer pão, e nessa altura estou perdido.
Em fundo, Michael podia ouvir as notícias da BBC na aparelhagem alemã
de Graham. Este tinha um ótimo ouvido e poderia ter sido um pianista sinfônico,
caso os serviços secretos não lhe tivessem deitado a mão. O seu talento atrofiara ao
longo dos anos, como acontece com uma segunda língua que não se fala. Utilizava
o Steinway de cauda uma ou duas vezes por semana, enquanto Helen assassinava o
jantar, e escutava outros a tocar música. Michael ouviu uma testemunha a
descrever o viajante de terno azul que matara um terrorista e incapacitara outro.
─ Tenho de telefonar à Elizabeth, e não quero metade da Estação de
Londres a ouvir a conversa. Importas-te que use o teu telefone? Graham apontou
para o telefone em cima da mesa de apoio.
─ Preciso de um pouco mais de privacidade. Ela não vai gostar do que tenho
para lhe dizer.
─ O quarto fica ao fundo do corredor.
Michael sentou-se na beira da cama, pegou no telefone e marcou o número.
Elizabeth atendeu ao primeiro toque, o tom de voz agitado.
Meu Deus, Michael, onde tens estado? Estou preocupadíssima.
Não queria que a conversa começasse dessa forma. O primeiro instinto foi
culpar a Agência, mas Elizabeth há muito que perdera a paciência para desculpas
sobre as exigências únicas do seu trabalho.
─ O Wheaton disse-me que tinha falado com você. Quando pude usar um
telefone, já tinhas partido para Nova York. Além disso, queria um aparelho sem
escutas.
─ Onde estás?
─ com a Helen e o Graham.
Elizabeth passara bastante tempo com os Seymour e gostava bastante do
casal. Dois anos antes, numa altura em que Graham estivera em Washington para
um trabalho de ligação contraterrorista, os quatro tinham passado um fim-de-
semana prolongado na casa de Shelter Island.
─ Porque não estás a caminho de casa? A extração está marcada para as dez
da manhã. Preciso que aqui estejas.
─ Já não há mais voos. Não vou conseguir chegar a tempo.

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