A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

cumprimento do dever. Raramente um agente de casos disparava para resolver um
problema. Sacar de uma arma em legítima defesa era o derradeiro sinal de
fracasso. Significava que o agente fora traído por um dos seus, ou que fora
completamente descuidado.
─ Não vamos mandá-lo para aquele ferry para que seja assassinado ou feito
refém ─ insistiu Wheaton. ─ Caso se aperceba de que está a cair numa armadilha,
riposte. Vai lá estar sozinho.
Michael colocou o carregador na coronha e puxou a culatra, introduzindo a
primeira bala. Accionou a trava de segurança e enfiou a arma no cós das calças, por
baixo da blusa.
Wheaton deixou Michael na estação. Michael comprou um bilhete de
primeira classe para Dover e um molho de jornais matutinos, e depois foi à procura
da plataforma. Entrou no comboio com cinco minutos de antecedência e avançou
pelo corredor apinhado. Encontrou um lugar num compartimento com dois
homens de negócios que já estavam a martelar nos computadores portáteis. No
momento em que o comboio saía da estação, uma mulher entrou no
compartimento. Tinha cabelo comprido e escuro, olhos escuros e pele pálida.
Michael pensou que se parecia vagamente com Sarah.
Durante quase uma hora, o comboio avançou ruidosamente pelos
subúrbios do Sudeste de Londres e depois entrou na terra de cultivo ondeada de
Kent. No bar, Michael comprou café e umo sanduíche de presunto e queijo.
Regressou ao compartimento e sentou-se. Os homens de negócios estavam em
mangas de camisa e suspensórios, olhando para um relatório de lucros como se
fosse um texto sagrado. A mulher não abriu a boca durante toda a viagem. Fumava
um cigarro atrás do outro, até que o compartimento ficou a parecer uma câmara de
gás. Os atraentes olhos castanhos acompanhavam o campo verde-acinzentado de
Kent. A mão comprida encontrava-se sugestivamente pousada sobre uma coxa
escondida por umas meias austeras.
O comboio chegou a Dover e Michael saiu do compartimento. A moça
colocou um saco de pele ao ombro e seguiu-o. Era alta, tão alta como Sarah, mas
não possuía a sua graciosidade, nem a agilidade física felina. Trazia vestido um
casaco de pele preto, que lhe dava pelas coxas, e botas da tropa pretas que
ressoavam quando andava.
Michael apressou-se a sair da estação e a dirigir-se ao terminal dos ferrys.
Comprou um bilhete e entrou para o barco, um ferry multiuso com centro e trinta
metros, capaz de transportar 1300 passageiros e 280 carros. Entrou para a área dos
bancos dos passageiros no convés principal e sentou-se junto a uma janela, a
bombordo. Olhou em frente e viu Graham Seymour sentado no centro do convés,

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