NOVA YORK
O programa de fertilização in vitro no Cornell Medical Center possuía uma
natureza de linha de montagem que fazia lembrar a Elizabeth os tribunais
criminais de qualquer grande cidade. Sentou-se no banco de madeira lascado no
corredor à porta da sala de operações, rodeada por outras doentes, enquanto os
técnicos cirandavam por ali em silêncio, com batas e máscaras. Só Elizabeth estava
sozinha. As outras quatro mulheres tinham os maridos a apertar-lhes as mãos e
olhavam para Elizabeth como se ela fosse uma solteirona que decidira ter uma
criança com o esperma que pedira emprestado ao marido da melhor amiga. Apoiou
de propósito o queixo na mão esquerda para mostrar a aliança de casamento e um
anel de noivado com um diamante de dois quilates. Imaginou o que as outras
mulheres estariam a pensar. Será que o marido estava atrasado? Será que se
divorciara há pouco tempo? Seria ele demasiado ocupado para estar com ela numa
altura daquelas?
Elizabeth sentiu os olhos começarem a ficar marejados. Estava a utilizar
cada pedacinho de autocontrole que tinha para não chorar. As portas duplas da
sala de operações abriram-se. De lá saiu uma marquesa empurrada por dois
técnicos, sobre a qual jazia uma mulher sedada. Outra foi levada lá para dentro,
vinda do vestiário que existia ali perto, para tomar o seu lugar em cima da mesa. O
marido foi enviado para uma sala pequena e escura com copos de plástico e
revistas Playboy.
Na parede estava pendurada uma pequena televisão, silenciosamente
sintonizada, sem som, na CNN. O ecrã mostrava uma reportagem ao vivo sobre um
ferry soltando fumaçao no Canal da Mancha.
Não, pensou Elizabeth, não é possível. Levantou-se, foi até a televisão e
aumentou o som.
─ ... Sete pessoas mortas... Parece ser obra do grupo terrorista islâmico
conhecido como a Espada de Gaza... Segundo ataque em dois dias... Acredita-se
terem sido os responsáveis pelo terrível atentado terrorista de ontem no Aeroporto
de Heathrow, em Londres...
Meu Deus, pensou, isto não pode estar acontecendo!
Voltou a sentar-se no banco e revirou a mala à procura do celular e da
agenda telefônica. Michael dera-lhe um número especial a ser usado apenas em
emergências extremas. Folheou as páginas desenfreadamente, sentindo os olhares
das outras doentes, e encontrou o número.