Elizabeth vestiu a bata. Toca, raios partam. Toca!
Subiu para a marquesa e a enfermeira empurrou-a até a sala de cirurgia. A
equipe operatória estava à espera. O seu médico baixou a máscara e ofereceu-lhe
um sorriso agradável.
─ Parece-me um pouco nervosa, Elizabeth. Está tudo bem?
─ Estou ótima, doutor Melman. ─ Ainda bem. Então vamos começar.
Acenou com a cabeça para o anestesista e, segundos mais tarde, Elizabeth
sentia-se a flutuar para um sono agradável.
CALAIS, FRANÇA
O porto fervilhava de luzes de emergência azuis e vermelhas à medida que
o ferry se aproximava da costa francesa. Michael estava de pé na ponte, rodeado
pelo capitão e pelos oficiais, a fumar um cigarro atrás do outro, enquanto via a
linha da costa avizinhar-se. Ora sentia um frio de morrer, ora um calor de abrasar.
O peito doía-lhe muito, como se alguém muito forte lhe tivesse dado um par de
murros. Graham Seymour estava do outro lado da ponte, rodeado pelo seu próprio
grupo de elementos da tripulação. Estavam mais ou menos detidos. Michael
dissera ao capitão que ele e Graham eram agentes dos Estados Unidos e da
Inglaterra e que alguém de Londres estaria à espera do ferry em Calais, onde tudo
lhes seria explicado. O capitão ficou desconfiado, tal como Michael ficaria no seu
lugar.
Michael fechou os olhos e o filme desenrolou-se mais uma vez. Assistiu a
tudo como se fossem imagens de um noticiário, ele próprio como um ator em
palco. Viu o atirador aproximar-se e Odette à procura da arma, os olhos alucinados.
O homem de balaclava com a arma não pertencia à Espada de Gaza e
Muhammad Awad não era o alvo. O alvo era Michael. Awad limitara-se a estar no
caminho. Voltou a fechar os olhos e pensou nos dois homens dentro do iate.
Lentamente, os rostos foram-se tornando mais nítidos, como se estivesse a focá-los
com a lente de longo alcance de uma câmara de vigilância. Viu os homens
dispararem contra si a partir do convés de ré. Tinha a sensação incômoda de já os
ter visto de relance noutro lado qualquer: num restaurante, numa festa ou na
farmácia em
Oxford Street. Ou teria sido numa estação de gasolina na M40 em
Oxfordshire, a fingir estar a encher o pneu traseiro de um monovolume Ford
branco? O ferry atracou em Calais. Michael e Seymour foram guiados para longe
das equipes de televisão e dos jornalistas aos gritos até um gabinete no interior do