A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

ligado algures na escuridão. Michael observou-o enquanto deslizava para a rua
silenciosa, com os faróis apagados.
Saiu pelas portas de correr, atravessou o jardim, trepou o muro e desceu
pelo outro lado, pela escada de corda. Apanhou um táxi em King's Road e foi para a
Waterloo Station. Comprou um bilhete para Roma com o dinheiro do cofre de
Graham. O comboio partia dali a uma hora. Wheaton, se fosse inteligente, estaria a
vigiar os aeroportos e as estações de comboio.
Michael comprou um chapéu impermeável num quiosque e puxou-o para a
testa. Saiu e esperou à chuva. Cinco minutos antes da hora de o comboio partir,
voltou a entrar na estação e dirigiu-se rapidamente à plataforma. Subiu para o
comboio e depressa encontrou um compartimento vazio. Ficou sentado sozinho na
semiobscuridade durante muito tempo, a escutar o barulho rítmico do comboio, a
olhar para o seu reflexo no vidro, a pensar em tudo. Depois, quando o comboio saiu
do túnel do Canal e avançou a toda a velocidade para sul, atravessando a França em
direção a Paris, mergulhou num sono leve e sem sonhos.


LONDRES


O Diretor via as notícias das dez na ITN à medida que o Jaguar metalizado
com motorista avançava a ronronar através das ruas do West End. Jantara mal no
seu clube Mayfair (borrego demasiado passado), onde os restantes membros
acreditavam que era um capitalista internacional aventureiro e bem sucedido, o
que, até certo ponto, era uma descrição exata do seu trabalho. Meia dúzia
desconfiava que, outrora, fizera um ou dois biscates para os Serviços Secretos. Um
ou dois sabiam a verdade: que, na verdade, fora o diretor-geral, o lendário C, dos
Serviços Secretos. Graças a Deus que lá trabalhara nos velhos tempos, quando a
Agência oficialmente não existia e os diretores tinham o bom senso de manter os
nomes e as fotografias afastados dos jornais. Imaginem só, o chefe dos Serviços a
conceder uma entrevista ao The Guardian: uma heresia, uma loucura. O Diretor
acreditava que os espiões e os serviços secretos se assemelhavam muito a ratazanas
e a baratas. É melhor fingir que não existem. Ajuda uma sociedade livre a dormir
melhor à noite.
O ataque ao ferry que fazia a travessia Dover-Calais dominava as notícias. O
Diretor estava furioso, embora o rosto tranquilo não revelasse nada a não ser
insolência enfadada. Após uma vida inteira nas sombras, a sua dissimulação era
uma arte. Era estreito de cabeça e de ancas, com cabelo cor de arenito a ficar
grisalho e mãos brancas de cirurgião que pareciam estar sempre a segurar um

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