A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

pelas janelas. Vinte soldados, camponeses das aldeias, estavam sentados junto ao
prédio condenado, a cozinhar sobre pequenas fogueiras.
─ Por que razão destacaram soldados para a porta do edifício, Jean-Paul? ─
perguntou, observando o espetáculo.
─ O quê? ─ interrogou Delaroche, do interior do quarto.
Astrid repetiu a pergunta, desta vez mais alto. Conversação ao estilo do
Cairo. Devido à cacofonia ensurdecedora nas ruas, a maior parte das conversas era
conduzida aos gritos. Isto fazia com que fosse difícil planear o assassinato de
Stoltenberg. Por razões de segurança,
Delaroche insistia em que falassem na cama, cara a cara, para que
pudessem conversar baixinho, diretamente ao ouvido um do outro.
─ Destacaram soldados para manter os peões afastados do prédio, para o
caso de ruir de repente.
─ Mas se o prédio ruir de repente, os soldados vão morrer. É uma loucura.
─ Não, é o Cairo.
Uma carroça apareceu na estrada, puxada por um burro coxo. O condutor
era um rapazinho, louro e de olhos verdes, vestido com uma túnica andrajosa. Da
base da carroça ia caindo lixo. Os soldados insultaram o rapaz e atiraram pedaços
de pão ao burro. Por um instante, Astrid pensou em pegar na arma e dar um tiro a
um dos soldados.
─ Jean-Paul, vem aqui, depressa ─ pediu.
─ Zabbaleen ─ disse Delaroche, dirigindo-se à varanda.
─ O quê?
─ Zabbaleen ─ repetiu ele. ─ Quer dizer coletores de lixo. O Cairo não tem
saneamento básico, nem sistema oficial de coleta de lixo. Durante anos, o lixo era
simplesmente jogado nas ruas, ou queimado para aquecer a água do banho. Nos
anos 30, os Cristãos Copta migraram para o Cairo vindos do sul. Alguns deles
tornaram-se abbaleen. Não ganhavam dinheiro com isso, apenas o lixo que
recolhiam. Vivem numa aldeia de lixo nas montanhas de Mokattam, a leste do
Cairo.
─ Meu Deus ─ exclamou ela, em voz baixa.
─ É hora de nos vestirmos ─ ordenou Delaroche, mas Astrid permaneceu
na varanda, olhando para o rapaz e seu lixo.
─ Não gosto dele ─ disse e, por um momento, Delaroche não teve certeza
se ela falava do abbaken ou de Eric Stoltenberg.
─ É um sacana cruel, e também é esperto.
─ Limite-se a fazer tudo conforme o planejado e as coisas vão correr bem.
─ Não deixe que ele me faça mal, Jean-Paul.

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