A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

manhã. Na ponta norte da ilha estão localizados os campos de críquete e os
campos de tênis do Ghazira Sporting Club, os campos de jogos da velha elite
britânica. Nas lojas e boutiques de Zamalek ouve-se o francês trazido para o Cairo
por Napoleão. Os habitantes vestem roupas ocidentais, comem comida ocidental
nos restaurantes e nos cafés, e dançam ao som de música ocidental nas discotecas.
É o outro Cairo.
Eric Stoltenberg morava no último andar, o nono, de um edifício com vista
para o rio. Os vizinhos queixavam-se das suas festas barulhentas e dos sons de
acasalamento das conquistas frequentes. Todas as noites almoçava num dos
restaurantes da moda de Zamalek e depois parava num clube noturno chamado
Break Point para os seus copos e caça noturnos.
Tudo isso constava do arquivo de Delaroche.
O Break Point tinha um porteiro e uma ordem de entrada estatutária, como
um clube de Nova York. O porteiro selecionava a clientela importante e as moças
bonitas para entrarem em primeiro lugar. Eric Stoltenberg encaixava na primeira
categoria, Astrid Vogel na segunda. Delaroche, um homem solteiro, atraente, na
casa dos quarenta, teve de esperar dez minutos. Logo que entrou, dirigiu-se ao bar.
Num árabe com o sotaque do Cairo pediu cerveja Stella, de fabrico egípcio. No
clube noturno, com as suas luzes lúgubres e cortina de fumo, poderia passar por
um qualquer egípcio da classe alta.
Pagou a cerveja e virou-se para perscrutar a sala. O sítio estava cheio, como
era habitual: moças egípcias parcamente vestidas que dormiam com estrangeiros,
rapazes que faziam o mesmo, umas quantas cabras da classe alta, alguns turistas
aventureiros que não conseguiam suportar mais uma noite no terrível bar do Nile
Hilton. Uma moça bonita convidou Delaroche para dançar, convite esse que ele
recusou educadamente. Momentos mais tarde, surgiu o seu anjo da guarda, um
rapaz grosseiro com um casaco de couro e uma camisa justa para provar que
levantava pesos. Delaroche murmurou algo ao ouvido dele, o que fez com que o
rapaz deixasse de imediato o bar, com a moça bonita a reboque.
Astrid dançava com Stoltenberg. Vestia uma das saias pretas compradas em
Londres e um pulôver justo. Era uma turista chamada Eva Tebbe, nascida no Leste,
que falava alemão com um sotaque saxônico. Astrid e Stoltenberg tinham-se
conhecido na noite anterior, quando viera ali com Delaroche, o qual fez de turista
francês do grupo. Stoltenberg atirou-se a ela de uma forma implacável. Restava-lhe
dois dias no Cairo e depois ia para Luxor. Stoltenberg tentara engatá-la, mas ela
recusou com tristeza, dizendo que o pequeno francês ficaria furioso. Nessa noite
estaria sozinha, motivo pelo qual Delaroche não quis dançar e permanecia no bar,
nas sombras.

Free download pdf