A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

BETHESDA, MARYLAND


Delaroche sentiu-se nervoso pela primeira vez quando saiu da Interstate 95
e começou a dirigir-se à Capital Beltway. Percorrera de carro algumas das mais
exigentes estradas da Europa (auto-estradas sinuosas em França e Itália, estradas
de montanha terríveis nos Alpes e nos Pirenéus), mas nada o tinha preparado para
a loucura da hora de ponta ao final da tarde em Washington. A viagem a partir de
Vermont decorrera sem incidentes. O tempo estivera bom, exceto por uma breve
tempestade de neve a norte do estado de Nova York e uns chuviscos gelados ao
longo de New Jersey Turnpike. Quanto mais viajavam para sul, mais a temperatura
subia, e a chuva parara em Filadélfia. Agora, o que Delaroche mais temia eram os
outros condutores. Carros passavam por eles a cento e quarenta quilômetros por
hora, cinquenta quilômetros acima do limite de velocidade, e o caminhão atrás
estava a dois metros do seu para-choque.
Delaroche pensou em como seria fácil ter um acidente em circunstâncias
como aquelas. Os resultados seriam desastrosos. Como era estrangeiro, a polícia
iria querer ver o seu passaporte. Se o agente estivesse atento e soubesse alguma
coisa de passaportes, notaria que o de Delaroche não continha qualquer visto de
entrada. Provavelmente seria detido e interrogado pelas autoridades de imigração e
pelo FBI. A sua identidade ruiria e ele seria preso, tudo por causa de um maluco
qualquer que tentava chegar a casa vindo do trabalho.
Os carros à sua frente travaram de repente. O trânsito parou. Delaroche
encontrou uma estação de rádio só com notícias e ouviu a atualização do trânsito.
Algures à sua frente, um atrelado tinha capotado. O trânsito estava uma confusão
ao longo de quilômetros.
Delaroche pensou na casa de Brélés. Pensou no mar a embater nas rochas e
em si próprio a pedalar na bicicleta de corrida italiana ao longo das calmas estradas
secundárias da Finistère. Devia ter estado a sonhar acordado, pois o homem no
caminhão buzinou e agitou freneticamente os braços. O condutor mudou de faixa,
colocou-se ao lado de Delaroche e fez um gesto obsceno com a mão.
─ Por favor, Jean-Paul ─ disse Astrid. ─ Deixa-me ir buscar a minha pistola
lá atrás e dar-lhe um tiro.
Trinta minutos depois aproximaram-se da cena do acidente. Um policial de
Maryland encontrava-se no meio da estrada, fazendo sinal aos carros para que
contornassem o caminhão capotado. Numa reação reflexa, Delaroche ficou tenso
na presença de um policial. Os camiões dos bombeiros e as ambulâncias

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