A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

Procurou na mala, tirou um dos dois celulares que sempre usava para
garantir a possibilidade de ter duas conversas ao mesmo tempo e teclou o número
de Michael. Mais uma vez ninguém atendeu. Queria ligar para o escritório do
marido mas, se ainda estivesse em Langley, nunca conseguiria chegar a tempo.
Levantou-se e percorreu lentamente a sala. Era naquelas alturas que Elizabeth
odiava ser casada com um espião. Michael detestava que ela o chamasse de espião.
Explicava-lhe com paciência que era agente de casos, não um espião. Elizabeth
considerava que era um termo idiota para aquilo que Michael fazia. ─ Até parece
que és uma espécie de conselheiro, ou de assistente social ─ dissera Elizabeth no
dia em que Michael lhe tentara descrever o seu trabalho pela primeira vez.
Ostentara o seu sorriso cuidadoso e replicara: "Bem, isso não anda muito longe da
verdade."
Apaixonara-se por Michael antes de saber que ele trabalhava para a CIA.
Um amigo convidara-a para velejar na baía Chesapeake, e Michael também fora
convidado. Era um dia abafado de finais de Julho, com muito pouco vento.
Enquanto o barco se arrastava pela água calma, Elizabeth e Michael permaneceram
à sombra das velas indolentes, a beber cerveja gelada e a falar. Ao contrário da
maior parte dos homens de Washington, Michael pouco falou sobre o trabalho.
Disse que era consultor internacional, que morara vários anos em Londres e que
acabara de ser transferido para o escritório de Washington da empresa. Nessa
noite, comeram omelete de caranguejo e beberam vinho branco fresco num
pequeno restaurante em Annapolis com vista para a água. Elizabeth fitou-o
durante toda a refeição. Era o homem mais bonito que já vira. O dia passado a
velejar tinha-o mudado. O sol bronzeara sua pele e deixara madeixas douradas no
cabelo escuro. Os olhos eram de um verde profundo, salpicados de amarelo, como
a erva silvestre do Verão. Tinha um nariz comprido e direito, e em várias ocasiões
Elizabeth viu-se obrigada a conter-se para não lhe tocar nos lábios perfeitos.
Considerava-o exótico, como se fosse italiano, turco, ou espanhol.
Nessa noite, Michael seguiu-a de volta à cidade pela Route 50, e ela levou-o
para a cama. Tinha trinta e quatro anos e quase desistira da ideia de se casar. Mas
nessa noite, ao recebê-lo no seu corpo pela primeira vez, apaixonou-se perdida e
desesperadamente por um homem que conhecera oito horas antes, e sobre o qual
não sabia quase nada.
Michael contou-lhe dois meses depois, durante um fim-de-semana
prolongado na casa de Verão do pai de Elizabeth, em Shelter Island. Estava-se nos
finais de Setembro. Os dias eram quentes mas, quando à noite o vento se levantava,
podia sentir-se a pontada agreste do Outono. Depois de jantar vestiam blusas e
calças, e bebiam café na praia.

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