Ouviu o raspar de botas nos degraus de madeira que levavam à porta da
frente. Ouviu o estalido metálico de Astrid Vogel a experimentar a maçaneta.
Escutou um ruído surdo quando Astrid Vogel tentou derrubar a porta com um
pontapé e invocou cada réstia do autocontrole que possuía para não gritar. Foi para
o quarto e fechou a porta. Ouviu uma série de sons abafados, três ou quatro, não
tinha a certeza, e o som de madeira a ser despedaçada: Astrid Vogel a disparar
contra a fechadura. Outro pontapé e, desta vez, a porta abriu, indo bater com
violência na parede adjacente.
E a mim que ele quer, não a ti.
E tu és um mentiroso, Michael Osbourne, pensou. Eram impiedosos e
sádicos. Com eles não haveria qualquer hipótese de argumentação nem, por certo,
de negociação.
Recuou até o canto, olhos postos na porta fechada. Meu Deus, quantas
vezes tinha estado ali? Em lindas manhãs de Verão. Em tardes frias de Outono. Os
livros nas prateleiras eram seus, bem como as roupas no armário. Até o tapete
puído aos pés da cama. Pensou na tarde em que ela e a mãe o tinham comprado
juntas, num leilão em Bridgehampton.
Pensou: Não posso deixá-la apanhar-me. Vão matar-nos aos dois.
Ouviu a mulher a atravessar a casa, o som das botas no soalho de madeira.
Ouviu o vento nas árvores, o grito das gaivotas. Deu um passo em frente e fechou a
porta com o gancho.
Esconde-te no armário, pensou. Talvez ela não procure aí.
Não sejas tonta, Elizabeth. Pensa! Depois ouviu a mulher chamá-la.
─ Sei que está aqui, Sra. Osbourne. Não quero fazer-lhe mal. Apareça, vá lá.
A voz era baixa e estranhamente agradável, com um sotaque alemão. Não
lhe dê ouvidos!
Abriu o armário e esgueirou-se lá para dentro. Deixou a porta entreaberta,
pois não conseguia suportar a ideia de estar trancada naquele espaço escuro e
minúsculo. Por fim, ouviu o silvo das sirenas, ao longe, trazido pelo vento.
Imaginou onde estariam: Winthrop Road, Manhanset Road se viessem do meio da
ilha. Fosse como fosse, Elizabeth sabia que estaria morta antes de eles chegarem.
Afastou-se da porta. Algo afiado espetou-lhe a omoplata: uma flecha, pousada
sobre a prateleira. Tateou ao longo da parede. Sabia que estava por ali algures, o
arco que o pai lhe oferecera quando fizera doze anos. Estava pendurado num
gancho na parede, ao lado de um velho conjunto de tacos de golfe.
A mulher tentou abrir a porta do quarto e descobriu que estava trancada.
Agora sabe que estou aqui dentro, pensou Elizabeth.
Foi invadida pelo pânico. Obrigou-se a respirar.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1