A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

Bateu suavemente com as mãos ao longo da parede até tocar em algo frio e
duro. Elizabeth pegou no arco. Tinha um metro e sessenta e cinco de comprimento,
medida padrão. Estendeu o braço para cima e agarrou na flecha. A haste era de
alumínio com penas. Pegou na flecha entre os primeiros dois dedos da mão direita
e, com o polegar, a ranhura para o fio atrás das penas. Fizera aquilo vezes sem
conta, por isso fazê-lo na escuridão não era problema, mesmo com mãos trémulas.
A mulher deu um pontapé na porta, mas o velho gancho não cedeu.
Elizabeth fixou a flecha no fio e apertou a haste contra os dedos da mão esquerda, a
qual agarrava o arco. Puxou a flecha para trás a meio caminho e depois respirou
fundo. A corda do arco estava velha e quebradiça, podendo simplesmente estalar
quando a esticasse à tensão necessária para disparar uma flecha. Por favor, pensou
Elizabeth, dedilhando o fio. Preciso de mais um disparo seu.
Seria ela realmente capaz de fazer aquilo? Nunca matara um ser vivo,
nunca sonhara em caçar. Fosse como fosse, o pai nem sequer quereria ouvir falar
nisso. Certa vez apanhou um dos seus namorados a perseguir um veado com o arco
e a flecha dela e baniu-o da casa durante o resto do Verão.
A mulher deu um pontapé na porta. O trinco partiu-se e a porta abriu. 360
O corpo de Elizabeth ficou rígido. Sentia-se como se fosse feita de pedra.
Obrigou-se a respirar devagar. Fá-lo: pelo Michael, pensou. Fá-lo pelas crianças
dentro de ti.
Puxou a flecha para trás e empurrou a porta com o pé. Viu Astrid Vogel, à
porta, a arma nas duas mãos, perto do rosto. Astrid virou-se para o barulho
repentino e fez pontaria com os braços esticados.
Elizabeth soltou a flecha.
A ponta da seta atingiu Astrid na base da garganta a atirou-a para trás,
encostando-a à porta aberta. Elizabeth gritou. Os olhos de Astrid abriram-se muito
e os lábios apartaram-se.
De alguma forma, conseguiu permanecer com a arma nas mãos. Ergueu-a e
começou a disparar. O silênciador abafava os disparos, transformando-os num
ruído surdo. Elizabeth saltou de novo para dentro do armário. Os disparos
lascaram a porta, estilhaçaram a janela do quarto e arrancaram estuque das
paredes. Ela caiu no chão e enrolou-se numa bola.
Depois parou. O quarto ficou em silêncio à exceção do vento e dos cliques
de Astrid Vogel a tentar disparar uma arma vazia. Elizabeth pôs-se de pé, pegou
noutra flecha e saiu do armário.
Astrid ejetara o cartucho gasto e remexia no bolso do casaco à procura de
outro carregador. O sangue jorrava da ferida na garganta. Conseguiu retirar o
carregador novo do bolso.

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