A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

─ Astrid já saiu daqui há muito tempo.
─ O que será que está retardando?
─ Telefone para a casa. Diga a sua mulher para se entregar.
Michael pousou o celular e pegou o receptor do telefone. Ouviu Outubro
levantar uma extensão. O telefone tocou uma vez e Elizabeth atendeu, sem fôlego.
─ Michael! Meu Deus, ela está morta. Eu a matei. Atingi-a com uma flecha.
Michael, por Deus, não quero ficar aqui com ela. Oh, Michael, é horrível. Por favor,
não quero ficar aqui com ela.
─ Vai para o cais. Leva o barco a remo para o Alexandra. Espere até que a
polícia chegue.
─ Michael, o que é que...
─ Faça o que digo. Vai para o Alexandra! Já!
Elizabeth desligou o telefone e dirigiu-se à janela. Conhecia Michael há
mais de dez anos. Ele velejara naquele barco inúmeras vezes com o pai dela. Sabia
que se chamava Athena e não Alexandra. Era possível que se tivesse enganado
devido à pressão da situação, mas duvidava. Era intencional.
Havia um motivo. Ele queria que ela ficasse na casa, mas desejava que
Outubro pensasse que estava indo para o barco.
Observou a casa principal pela janela. Ouvia as sirenes a aproximarem-se.
Queria sair dali. Queria um cigarro para disfarçar o cheiro do sangue de
Astrid Vogel. Queria que aquele pesadelo acabasse. Segundos mais tarde, viu a
porta de correr do alpendre abrir-se e o homem chamado Outubro correr pelo
gramado em direção ao cais.
Delaroche precipitou-se para o meio das trevas. O vento açoitava as árvores
e quase o levava pelo ar. O cais estendia-se adiante, avançando pela escuridão. A
cinquenta metros da costa, o veleiro balançava nas amarras, o mastro oscilando
como um pêndulo na crista espumosa das ondas, as adriças gritando ao vento.
A voz de Michael Osbourne, distante e metálica, soava na sua cabeça como
as vozes nos alto-falantes de uma estação de trem.
Chamei-o Nicolai Mikhailovich. É o seu nome verdadeiro.
Raios me partam! pensou Delaroche. Como ele sabia?
O KGB prometera-lhe uma coisa: a sua existência no Ocidente seria tão
secreta que apenas meia dúzia de pessoas da hierarquia saberia a verdade. Tão
secreta que lhe fora permitido matar seus acompanhantes até o Ocidente naquela
noite, na Áustria. Teriam mentido? Alguém o teria traído? Teria sido Vladimir? Ou
Arbatov? Ou o traidor Drozdov? Teria Drozdov descoberto a verdade sepultada nos
arquivos no Centro de Moscou e vendido aos seus novos senhores no Ocidente?
Delaroche jurou matar Drozdov se chegasse a sair vivo de Shelter Island.

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