A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

A revelação de que a CIA tinha um dossiê fez Delaroche sentir-se
fisicamente doente. Também teriam uma fotografia? Normalmente era Delaroche
que utilizava os dossiês, era Delaroche quem folheava as páginas negras da vida de
um homem até descobrir a fraqueza que acabaria por se tornar na sua desgraça.
Agora, Delaroche sabia que os seus inimigos tinham reunido um dossiê sobre a
sua vida e Osbourne utilizara-o contra ele. Chamei-lhe Nicolai Mikhailovich.
De forma reflexa, as mortes passavam por sua mente. Tentou não pensar
nelas, mas os rostos apareceram um por um, primeiro vibrantes e vivos, depois
estropiados por três buracos de bala. Hassan Mahmoud, o rapaz palestino. Colin
Yardley e Eric Stoltenberg. Sarah Randolph...
Podia ouvir os gritos de Michael Osbourne ecoando ao longo da Represa de
Chelsea.
E seu nome verdadeiro.
Certas noites, Delaroche tinha um sonho e agora esse sonho desenrolava-se
na sua imaginação. Os homens que ele matara iam confrontá-lo, armados com
automáticas com silenciador, e ele tentava pegar na sua pistola Glock, ou na
Beretta, e só encontrava pincéis. Depois tentava alcançar a sua arma de reserva e
encontrava apenas uma paleta. "Sabemos quem és", diziam eles, começando a rir.
Delaroche erguia as mãos e protegia o rosto e as balas despedaçavam-lhe a palma
das mãos e penetravam-lhe nos olhos. Delaroche sentava-se na cama e dizia a si
próprio que não passava de um sonho, era apenas um maldito e estúpido sonho.
Delaroche atravessou a correr o relvado em declive, os pés a voar sobre a
relva molhada, até que o som dos seus passos sobre o cais de madeira desfez a
imagem de pesadelo da sua própria morte. Ouviu o barco a bater contra os pilares
do cais, mas o motor estava silencioso. Alguns segundos depois, chegou ao fim do
pontão e olhou para baixo, a arma apontada para a escuridão.
O barco estava vazio.
─ Largue a arma! ─ gritou Michael sobre o barulho do vento.
─ Deite-se no cais, de barriga para baixo, e faça-o muito devagar.
Michael estava no início do cais, Outubro no fim, a quinze metros de
distância. O braço esquerdo estava pendurado ao lado do corpo, o direito, dobrado
pelo cotovelo, a arma perto do rosto. Permanecia imóvel. Pelo som das sirenes, a
polícia encontrava-se agora em Shore Road. Chegaria numa questão de segundos.
─ Largue a arma agora! ─ gritou Michael. ─ Acabou. Faça o que digo.
Outubro baixou o braço direito até este ficar hirto ao lado do corpo. A
polícia chegou ao portão principal. Michael ouviu a porta da casa de hóspedes
abrir-se. Virou-se na direção do som e avistou a blusa bege de Elizabeth, brilhando
na escuridão.

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