A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

Estava frio para Outubro, e um dos empregados acendera a grande lareira. Elliott
caminhava devagar pela sala, enquanto beberricava malte de trinta anos de um
copo de vidro lapidado. Era um homem de baixa estatura, com pouco mais de um
metro e sessenta e cinco, que há muito aprendera a manter uma pose imponente.
Nunca permitia que um oponente se agigantasse. Quando alguém entrava no seu
gabinete, Elliott permanecia sempre sentado, as pernas cruzadas, as mãos nos
braços da cadeira, como se o espaço não chegasse para lhe albergar o corpo.
Elliott era versado na arte da guerra e, acima de tudo, na arte do engano.
Acreditava na ilusão, nos engodos. Dirigia a empresa como se se tratasse de uma
agência de espionagem, funcionando no princípio da "necessidade de saber". A
informação era rigidamente segmentada. O chefe de uma divisão pouco sabia
acerca do que se passava nas outras divisões, tendo conhecimento apenas do que
precisava de saber. Raras eram as vezes em que Elliott fazia reuniões com a
presença de todos os diretores. As ordens eram dadas cara a cara em reuniões
privadas e nunca através de memorandos escritos. Todas as reuniões com Elliott
eram encaradas como confidenciais e os executivos estavam proibidos de as
discutir com outros executivos. Os boatos eram castigados com o despedimento e
se um dos funcionários começasse com mexericos, em breve Elliott teria
conhecimento do fato. Os telefones estavam sob escuta, o correio eletrônico era
lido e as câmaras e os microfones de vigilância cobriam cada centímetro quadrado
da zona de escritórios.
Mitchell Elliott não via nada de mal nisso. Acreditava que Deus lhe
concedera o direito, mais do que isso, a responsabilidade, de fazer o que fosse
preciso para proteger a sua empresa e o seu país. A crença de Elliott em Deus
impregnava tudo o que fazia. Acreditava que os Estados Unidos eram a terra
escolhida por Deus e os Americanos o povo eleito. Acreditava que Cristo lhe
dissera para estudar aeronáutica e engenharia elétrica, e que fora Cristo quem lhe
dissera para entrar para a Força Aérea e combater os ímpios comunistas chineses
na Coreia.
Depois da guerra instalou-se no Sul da Califórnia, casou-se com Sally, a
namorada do liceu, e começou a trabalhar para a McDonnell-Douglas. Mas Elliott
sempre se sentiu insatisfeito. Rezava ao Todo-poderoso por orientação. Três anos
depois criou a sua própria empresa, a Alatron Defense Systems. Elliott não
pretendia de todo construir aviões. Sabia que seriam sempre essenciais à defesa da
nação, mas acreditava que Deus lhe concedera um vislumbre do futuro, e este
pertencia ao míssil balístico, as flechas de Deus, como chamava. Elliott não
construía os próprios mísseis. Desenvolvia e fabricava, isso sim, os sofisticados
sistemas de orientação que lhes diziam onde cair. Dez anos depois de ter criado a

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