A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

metro e noventa do Novo México, que falava espanhol, português e pelo menos dez
dialetos índios. Blaze concentrava-se nos guerrilheiros e nos terroristas da América
Central e do Sul. Vestia-se como os seus alvos, com sandálias e vestes índias largas,
apesar dos repetidos avisos escritos do Departamento de Pessoal. Considerava-se o
equivalente moderno de um samurai, um verdadeiro guerreiro poeta, e praticava
artes marciais com Cynthia quando o trabalho não abundava.
Michael estava sentado a um canto ao lado de Gigabyte, um rapaz cheio de
borbulhas de vinte e dois anos, que passeava o dia inteiro na Internet, vagueando
no éter em busca de comunicações terroristas. Rock alternativo saía-lhe aos berros
dos receptores, e no seu ecrã Michael vira coisas que o acordavam a meio da noite.
Erguera uma barreira de pastas antigas para bloquear a visão, mas sempre que
Gigabyte soltava risadinhas, ou quando a música que ouvia aumentava
subitamente de volume, Michael sabia que era melhor fechar os olhos e pousar a
cabeça na secretária.
O relógio de parede estava pendurado ao lado de uma silhueta de noventa
centímetros em cartão de um pistoleiro, carimbado com o símbolo redondo
vermelho internacional da proibição. Eram quase oito da noite e Michael trabalhava
desde as cinco da manhã. O curral estava longe de estar deserto. O Sendero
Luminoso do Peru raptara um ministro do governo e Blaze andava de um lado para
o outro ao telefone. A Ação Direta de França fizera rebentar uma bomba numa
estação de metro de Paris. Eurotrash estava curvado sobre o teclado, a ler o tráfego
de mensagens. O IRA assassinara um empreiteiro protestante à frente da mulher e
dos filhos. Cynthia estava ao telefone com Londres numa linha segura, a transmitir
informações ao MI5 britânico. Felizmente, Gigabyte fora a um clube noturno com
um grupo de amigos que julgava que ele criava páginas de Internet.
Michael tinha quinze minutos antes de informar o diretor executivo sobre
os desenvolvimentos do caso. A reivindicação do atentado ao avião fora
reencaminhada para Langley há uma hora. Michael leu-a pela quinta vez. Reviu as
análises forenses realizadas pelo laboratório do FBI ao navio-baleeiro encontrado
nessa manhã à deriva, ao largo de Long Island. Estudou as fotografias do cadáver
descoberto a bordo da embarcação.
Passaram-se dez minutos. Podia descer ao fosso da lavagem e comer
alguma coisa, ou podia telefonar a Elizabeth. Faltara à consulta em Georgetown e
sabia que provavelmente teriam uma discussão. Não queria ter essa conversa a um
telefone da Agência. Desligou o computador e saiu do curral.
O corredor estava mal iluminado e deserto. A Comissão de Belas Artes da
Agência tentara alegrar o corredor com arte folclórica indonésia, mas continuava
tão frio e estéril como uma unidade de cuidados intensivos. Seguiu o corredor até

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