A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

uma série de elevadores grandes, apanhou um deles até a cave e depois percorreu
mais um corredor anônimo até o fosso da lavagem. Era tarde e a seleção de comida
pior do que o habitual. Pediu uma sanduíche de peixe e batatas fritas à mulher de
olhos exaustos atrás do balcão. A empregada agrediu a caixa registradora como se
lhe desejasse mal, sacou o dinheiro de Michael e entregou o troco.
Michael comeu enquanto andava. O que comprara tinha um sabor horrível,
pois estava frio e fora cozinhado há horas, mas era melhor do que mais um pacote
de fritos. Comeu meio sanduíche e algumas batatas e deitou o resto para dentro de
um balde do lixo. Viu as horas: cinco minutos. Tempo suficiente para um cigarro.
Subiu de elevador um piso e depois saiu por uma porta de vidro para um grande
pátio interior. William Webster proibira o tabaco no interior do edifício. Os que
ainda sofriam do vício eram obrigados a encolher-se como refugiados no pátio, ou
à volta das saídas. Depois de anos de trabalho secreto na Europa e no Oriente
Médio, os cigarros e o ato de fumar tinham passado a fazer parte do mister.
Michael não conseguia, nem queria, deixar de fumar só por agora estar na sede.
Folhas mortas rodopiavam por toda a extensão do pátio. Michael virou-se
de costas contra o vento e acendeu um cigarro. A noite estava fria e muito escura. A
única luz era a do brilho das janelas dos gabinetes lá em cima, tingida de verde
pelos vidros à prova de som. Antigamente, fazia das vielas de Berlim, de Atenas, ou
de Roma o seu gabinete. Ainda se sentia mais à vontade num café do Cairo do que
num Starbucks de Georgetown. Olhou rapidamente para o relógio. Mais um jantar
agradável. Enfiou o cigarro num cinzeiro cheio de areia e voltou a entrar.
A sala de briefing ficava do outro lado do corredor do curral e era pequena,
atravancada, e em grande parte ocupada por uma grande mesa retangular de
madeira. Numa das paredes estavam pendurados os emblemas de todas as
agências governamentais que desempenhavam algum papel no Centro. Na parede
em frente à porta encontrava-se uma tela de projeção. Michael chegou exatamente
às 23:45. Estava a endireitar a gravata quando dois homens entraram na sala. O
primeiro era Adrian Carter, diretor do Centro de Contraterrorismo e um veterano
com vinte anos nas operações. Era baixo e de tez pálida, com cabelo grisalho
escasso e papos por baixo dos olhos que lhe concediam um ar de enfado constante.
Michael e Carter tinham uma relação profissional e pessoal de quinze anos. O
segundo era Eric McManus, o diretor-adjunto do Centro. McManus era grande e
franco, com um sorriso agradável, uma juba de cabelo ruivo e grisalho e um leve
toque do sul de Boston na voz. Pertencia ao FBI e tinha todo o aspeto disso: terno
marinho, camisa branca engomada, gravata vermelha. Quando o pai de Michael
trabalhava na Agência, um agente do FBI com um cargo tão elevado na CIA seria
considerado uma heresia. Os oficiais da CIA da velha guarda acreditavam que tudo

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