A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

Michael sempre vivera com um certo elemento de risco pessoal devido ao
modo como desempenhava o seu trabalho. Segundo o léxico da CIA, era um NOC,
o acrônimo da Agência que significava que não tinha cobertura oficial. Isso
significava que em vez de trabalhar a partir de uma embaixada, com uma cobertura
providenciada pelo Departamento de Estado, tal como a maior parte dos agentes,
Michael estava por sua conta. Formara-se em gestão, em Dartmouth, por isso, regra
geral, o seu disfarce envolvia consultoria ou vendas internacionais. Michael
preferia que assim fosse. A maior parte dos agentes da CIA que trabalhava com a
embaixada era conhecida pelo outro lado. Isso fazia com que a tarefa de
espionagem fosse ainda mais difícil, especialmente quando o alvo era de uma
organização terrorista. Michael não tinha o estigma da embaixada às costas, mas
também não podia contar com ela para sua proteção. Se um agente com uma
cobertura oficial se deparasse com problemas, podia sempre fugir para a
embaixada e alegar imunidade diplomática. Se Michael ficasse em apuros, caso um
recrutamento corresse mal, ou se o serviço de espionagem adversário tomasse
conhecimento da verdadeira natureza do seu trabalho, podia ser preso, ou pior.
Depois de tantos anos na sede, a ansiedade perdera alguma da sua força, mas
nunca desaparecera por completo. O medo que mais o afligia era que os inimigos
procurassem aquilo que ele mais amava. Já antes o tinham feito.
Saiu do carro, trancou-o e ligou o alarme. Dirigiu-se para oeste, para a 34th
Street, sempre a observar os automóveis, a confirmar qualquer indício. Lá chegado,
atravessou a estrada e fez o mesmo do outro lado.
Degraus curvos de tijolo subiam do passeio até a porta de entrada da ampla
casa de estilo federal. Em tempos, Michael fora sensível ao tema da casa de dois
milhões de dólares em Georgetown, pois a maior parte dos colegas vivia nos
subúrbios menos dispendiosos de Virgínia, à volta de Langley.
Implicavam constantemente com a casa luxuosa e o carro, questionando em
voz alta se Michael teria seguido o exemplo de Rick Ames e começado a vender
segredos por bom preço. A verdade era bastante menos interessante: Elizabeth
ganhava quinhentos mil dólares na Braxton, Allworth & Kettlemen, e Michael
herdara um milhão de dólares quando a mãe morrera.
Destrancou a porta de entrada, primeiro o ferrolho, depois a tranca. O
alarme soou baixinho quando entrou. Fechou a porta com suavidade, voltou a
trancá-la e desligou o alarme. Ouviu Elizabeth a virar-se na cama, no piso de cima.
Deixou a pasta em cima do balcão central da cozinha, tirou uma cerveja do
frigorífico e bebeu meia garrafa na primeira golada. O ar cheirava vagamente a
tabaco. Era mau sinal, pois Elizabeth deixara de fumar. Largara o tabaco havia dez
anos, mas fumava quando estava zangada, ou nervosa. A consulta em Georgetown

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