às escuras quando regressou, mas Elizabeth continuava sentada na cama, os braços
novamente a abraçar as pernas.
─ Consigo vê-lo no seu rosto, sabia?
─ De que está falando?
─ Aquela expressão.
─ Qual expressão?
─ A expressão com que fica sempre que alguém é morto em algum lugar no
mundo.
Michael deitou-se e apoiou-se sobre o cotovelo para a encarar.
─ Vejo essa expressão e me pergunto se voltou a pensar nela ─ comentou
Elizabeth.
─ Não estou pensando nela, Elizabeth.
─ Como se chamava? Nunca me disse.
─ Sarah.
─ Sarah ─ repetiu Elizabeth. ─ É um nome muito bonito. Você a amava?
─ Sim, amava.
─ Ainda a ama?
─ Amo você.
─ E não me respondeu.
─ Não, não a amo mais.
─ Mente tão mal. Pensei que os espiões tinham de ser bons enganando.
─ Não estou mentindo. Nunca te menti. Só oculto o que não posso contar.
─ Costuma pensar nela?
─ Penso no que aconteceu a ela, mas não penso nela.
Elizabeth deitou-se, virando-lhe as costas. Na escuridão, Michael pôde ver
que os ombros dela tremiam. Quando a tocou, ela disse: ─ Desculpe, Michael. Sinto
muito.
─ Por que está chorando, Elizabeth?
─ Porque estou zangada com você, e porque te amo muito. Porque quero ter
um filho com você e tenho muito medo do que possa nos acontecer se não
conseguir.
─ Não vai nos acontecer nada. Amo você mais do que tudo no mundo.
─ Já não a ama, não é, Michael?
─ Amo você, Elizabeth, e só você.
Elizabeth virou-se na escuridão e puxou o rosto do marido para junto do
seu. Michael beijou-a na testa e limpou-lhe as lágrimas dos olhos. Abraçou-a
durante algum tempo, escutando o vento nas árvores perto da janela do quarto, até
que a respiração dela assumiu o ritmo do sono.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1