A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

WASHINGTON, D. C.


Se há coisa pior do que um jantar formal em Washington, é ir sozinha a um
jantar formal em Washington, pensou Elizabeth Osbourne. Chegou quinze
minutos atrasada à mansão de Kalorama de Mitchell Elliott. Deixou o Mercedes
com o arrumador de serviço, um rapaz que mal parecia ter idade para conduzir, e
dirigiu-se à entrada. Michael telefonara ao fim da tarde a dizer que não podia sair,
pois ia acontecer algo importante. Elizabeth tentara encontrar um acompanhante,
mas não conseguiu descobrir ninguém tão em cima da hora. Até mesmo Jack
Dawson, o ex-marido de Susanna, recusara o convite.
Elizabeth premiu o botão e ouviu-se o dobrar solene de um sino algures no
interior da casa imponente. Um homem elegante de smoking veio abrir a porta.
Aceitou-lhe o casaco e olhou para a rua, em busca do acompanhante. ─ Estou
sozinha ─ indicou Elizabeth, arrependendo-se de imediato. Não tenho de dar
explicações a um mordomo, pensou.
O mordomo informou-a de que as bebidas estavam a ser servidas no
jardim. Elizabeth percorreu o hall central para o interior da casa. Portas de correr
davam acesso a um magnífico jardim de dois níveis. Aquecedores a gás
afugentavam o frio da noite de Outono. Elizabeth saiu e um empregado ofereceu-
lhe um copo de Chardonnay fresco. Bebeu metade rapidamente. Olhou à sua volta
para os outros convidados e sentiu-se ainda mais embaraçada.
Estava cercada pela elite republicana de Washington: o líder da maioria do
Senado, o líder da minoria da Câmara de Representantes, um bando de elementos
menos importantes, e a primeira liga dos advogados, lobistas e jornalistas da
cidade. Um famoso comentador televisivo conservador discursava nas margens da
piscina. Elizabeth aproximou-se da sua órbita, empunhando o vinho como um
escudo. Beckwith estava em apuros, declarava o comentador, pois traíra os
princípios conservadores do Partido. A audiência aquiesceu com lentidão. Assim
falara o Oráculo.
Elizabeth olhou para o relógio: oito horas. Interrogou-se se seria capaz de
aguentar o serão. Tentou imaginar quem seria o primeiro a comentar o fato de estar
sozinha. Alguém lhe gritou o nome. Virou-se para o som e viu Samuel Braxton a vir
na sua direção. Era um advogado brilhante e impiedoso, encurralado dentro do
corpo de um jogador de futebol amolecido pela idade e pela prosperidade.
Pendurada no braço carnudo estava a sua última aquisição, uma loura de grandes
seios chamada Ashley. Era a esposa número três, ou número quatro, Elizabeth não
tinha a certeza. Tinham ficado ao lado uma da outra durante um jantar, numa

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