Beckwith apresentou o ponto-chave do discurso. Segundos depois, o deserto líbio
irrompia em chamas. Ronald Clark levantou-se e saiu em silêncio da sala, com Tyler
e respectivos acólitos atrás dele. Carter olhou para Osbourne, que fitava os
monitores.
─ Bem ─ disse Carter ─, lá se vai a paz no Oriente Médio.
O homem de cabelo grisalho curto sentado no último andar de um
moderno edifício de escritórios de Telaviv pensava o mesmo. O prédio servia de
quartel-general do Instituto Central de Espionagem e Tarefas Especiais, mais
conhecido como Mossad ou, simplesmente, o Instituto. O homem de cabelo
grisalho era Ari Shamron, o diretor-adjunto das operações da Mossad. Quando
Beckwith acabou de falar, Shamron desligou a televisão. Um adido bateu à porta e
entrou no gabinete.
─ Temos relatórios da rádio síria. Al Burei foi atacado. O campo está em
chamas. Shamron aquiesceu em silêncio e o adido saiu. Shamron esfregou a cana
do nariz com o polegar e com o indicador e tentou afastar a fadiga. Eram 4 e 15 da
manhã e estava à secretária há quase vinte e quatro horas. Tendo em conta o
desenrolar dos acontecimentos, provavelmente continuaria aí por mais vinte e
quatro.
Acendeu um cigarro, serviu-se de chá preto de um termo e dirigiu-se à
janela. A chuva fustigava o vidro espesso. Lá em baixo, Telaviv dormia
tranquilamente. Em parte, isso se devia a Shamron. Passara a vida inteira nos
serviços secretos, a eliminar aqueles que desejavam destruir Israel.
Tendo crescido na Galileia, Ari Shamron entrara para a Força de Defesa
israelense com dezoito anos, sendo transferido de imediato para a Sayeret,
as forças especiais de elite. Após três anos de serviço ativo, mudara-se para a
Mossad. Em 1972, o seu francês fluente e a sua habilidade para matar granjearam-
lhe uma nova missão. Foi enviado para a Europa para assassinar os membros do
grupo terrorista palestino Setembro Negro, que participara no rapto e morte dos
atletas israelenses nos Jogos Olímpicos de Munique. A missão era simples. Nada
de detenções, apenas sangue. Vingança, pura e simples. Aterrorizar os terroristas.
Sob o comando de Mike Harari, a equipe da Mossad assassinara doze terroristas
palestinos, alguns com armas com silenciador, outros com bombas detonadas à
distância. Shamron, letal com uma pistola, matara quatro. Depois, em abril de 1973,
liderara uma equipe de tropas israelenses em Beirute e assassinara outros dois
membros do Setembro Negro e um porta-voz da OLP.
Shamron não tinha escrúpulos em relação ao trabalho que fazia. Em 1964,
guerrilheiros palestinos tinham entrado na casa da sua família e assassinado os
seus pais enquanto dormiam. O ódio que nutria pelos palestinos e seus líderes não
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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