A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

deram início à prática privada. Arbatov servia de agente a Delaroche. Se alguém
precisava de um trabalho feito, dirigia-se a Arbatov. Se este o aprovasse, sugeria-o a
Delaroche. Arbatov recebia pelos seus serviços uma percentagem da quantia
avultada cobrada no mercado por Delaroche. O que Delaroche ganhara até então
levara-o a considerar seriamente a hipótese de abandonar a sua linha de trabalho.
Passara mais de um mês desde a última missão e, pela primeira vez, não se sentia
enfadado nem agitado com a inatividade. O último trabalho rendera-lhe um milhão
de dólares, o suficiente para viver em Brélés com conforto durante muitos anos,
mas também lhe custara algo no seu íntimo. Durante a longa carreira como
assassino, primeiro para o KGB, depois como profissional freelance, Delaroche
tivera apenas uma regra: Não matava pessoas inocentes. O atentado ao avião ao
largo de Long Island levara-o a quebrar essa regra.
Não fora ele a disparar o míssil, mas desempenhara um papel essencial na
operação. A sua missão era posicionar o palestino, matá-lo depois do trabalho feito
e afundar o iate antes de ser retirado do mar por helicóptero. Realizara o seu
trabalho na perfeição e por ele recebera um milhão de dólares. Mas à noite, quando
se encontrava sozinho na casa, sem mais nada para além do barulho do mar, via o
avião em chamas a cair para o Atlântico. Imaginava os gritos dos passageiros,
enquanto esperavam pela morte. Conhecera intimamente todos os alvos dos
trabalhos anteriores. Eram pessoas más, envolvidas em assuntos maléficos, que
sabiam bem os riscos envolvidos. E matara-os a todos cara a cara. Rebentar com um
avião de passageiros civil fora uma violação da sua regra.
Manteria o encontro com Arbatov e escutaria a proposta. Se fosse boa e
lucrativa, talvez a aceitasse. Caso contrário, iria reformar-se, pintar o interior bretão
e beber vinho no seu chalé de pedra, não voltando a falar com mais ninguém.
Uma hora depois terminou a pintura. Era boa, pensou, mas podia fazer
melhor.
O Sol estava a pôr-se e um lusco-fusco violeta dominara a fazenda. Sem o
Sol, o ar tornou-se subitamente frio, carregado com o aroma a fumo de madeira e a
alho frito. Espalhou patê sobre um naco de pão e bebeu cerveja enquanto guardava
os materiais. Colocou as fotografias e os esboços no bolso. Voltaria a utilizá-los
para criar uma versão melhor do trabalho, no estúdio. Deixou o copo de vinho, a
travessa meio vazia e a aguarela ainda úmida à porta da casa, e regressou em
silêncio à Mercedes. O cão de três pernas ladrou-lhe quando Delaroche se afastou
com o carro, após o que devorou o resto do enchido.
Na manhã seguinte, quando Delaroche conduziu de Brélés para Roscoff, a
chuva caía forte. Chegou ao paredão exatamente às dez horas e encontrou Arbatov,

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