A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

─ Só disseram que era extremamente importante e que queriam o melhor.
Delaroche não precisava de lisonja.
─ E o pagamento?
─ Não adiantaram pormenores. Só comentaram que era mais do que o
pagamento anterior. ─ Arbatov apagou o Gauloise com a unha rachada do polegar
grosso. ─ "Substancialmente mais" foi o termo que utilizaram.
Delaroche fez sinal ao empregado para que levantasse o prato. Pediu outro
café e acendeu ele próprio um cigarro.
─ Não entraram em pormenores quanto à natureza do trabalho?
─ Só um. É uma missão múltipla e os alvos são todos profissionais. O
interesse de Delaroche despertou subitamente. Em geral, o seu trabalho aborrecia-
o. A maior parte das missões exigia menos capacidades do que as possuídas por
Delaroche, pouca preparação e ainda menos criatividade.
Matar profissionais era outro caso.
Querem encontrar-se com você amanhã ─ indicou Arbatov. Em Paris.
─ No terreno de quem?
─ Deles, é claro. ─ Levou a mão ao casaco e retirou do bolso um pedaço de
papel empapado. A tinta escorrera, mas a morada continuava legível. ─ Querem
um encontro cara a cara.
─ Não aceito esse tipo de encontros, Mikhail. Tu, mais do que qualquer
outra pessoa, devias saber disso.
Delaroche protegia a identidade com um cuidado que raiava a paranoia. A
maior parte dos homens no seu ramo resolvia o problema com visitas regulares a
cirurgiões plásticos, que lhes davam rostos novos. Delaroche agia de outra forma.
Raramente permitia que alguém que soubesse o que ele fazia lhe visse o rosto.
Nunca deixara que ninguém lhe tirasse uma fotografia e trabalhava sempre
sozinho. Abrira somente uma exceção, o palestino na operação do voo comercial,
mas recebera uma quantia exorbitante e abatera-o depois de concluído o trabalho.
A equipe de resgate não lhe vira o rosto, pois envergara uma máscara preta de lã.
─ Sê razoável, meu rapaz ─ dizia Arbatov. ─ Estamos num admirável
mundo novo. ─ Continuo vivo por ser cuidadoso.
─ Tenho noção disso. E quero que fiques vivo para que eu possa continuar a
receber dinheiro. Acredita, Jean-Paul, não te colocaria numa situação que julgasse
arriscada. Pagas-me para averiguar ofertas e para te dar bons conselhos.
Aconselho-te a ouvir o que estas pessoas têm para dizer, nos termos deles.
Delaroche olhou-o. Estaria a perder qualidades? A perspectiva de um
pagamento enorme estaria a toldar-lhe o raciocínio?
─ Quantas pessoas vão lá estar? ─ Disseram-me que apenas uma.

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