PARIS
Delaroche conduziu até Brest e apanhou o comboio para Paris. Viajava com
duas malas, um saco pequeno com uma muda de roupa e uma pasta rectangular
grande, que continha uma dúzia de aguarelas. O seu trabalho era vendido numa
galeria parisiense discreta, o que lhe garantia um rendimento suficiente para
justificar o estilo de vida despretensioso que levava em Brélés.
A partir da estação dos caminhos-de-ferro, seguiu de táxi até um hotel
modesto na rue de Rivoli, onde se registrou como um holandês de nome Karel van
der Stadt. O neerlandês era uma das suas línguas e possuía três passaportes
holandeses excelentes. O quarto tinha uma pequena varanda com vista para o
Jardin des Tuileries e o Louvre. A noite estava fria e muito limpa e, à sua direita,
podia ver a Torre Eiffel, brilhante com a sua iluminação. À esquerda ficava Notre
Dame, de guarda ao tremeluzir negro do Sena. Era tarde, mas tinha trabalho a
fazer. Vestiu uma blusa, um blusão de couro e saiu. O recepcionista perguntou a
Delaroche se gostaria de lhe deixar a chave. Este abanou a cabeça e respondeu, com
um francês carregado de pronúncia holandesa, que preferia levá-la.
O encontro estava marcado para um apartamento no Quinto
Arrondissement, na rue de Tournefort. Descobrir vigilância profissional era difícil,
na melhor das hipóteses, mas tornava-se quase impossível à noite, numa cidade
como Paris. Delaroche caminhou durante algum tempo, cruzou o Sena e passeou
ao longo do Quai de Montebello. Fez várias paragens repentinas. Viu os livros nos
quiosques. Comprou os jornais vespertinos numa banca. Fez um telefonema falso a
partir de um telefone público. Confirmava sempre se estava a ser perseguido, mas
não viu qualquer sinal nesse sentido.
Delaroche percorreu as ruelas estreitas do Bairro Latino durante os quinze
minutos seguintes. No ar frio da noite podia sentir-se o aroma a especiarias e a
tabaco. Delaroche entrou num bar e bebeu cerveja enquanto folheava um jornal.
Mais uma vez, não avistou qualquer tipo de vigilância. Terminou a bebida e saiu.
O apartamento batia com a descrição de Arbatov, situando-se no segundo
andar de um prédio antigo na rue de Tournefort, perto da Place de la Contrescarpe.
Da calçada Delaroche pôde ver que as janelas da frente estavam às escuras.
Reparou também numa pequena câmara à porta, para que os inquilinos soubessem
quem os visitava.
Na esquina ficava um pequeno restaurante, com uma boa vista do
apartamento e da entrada. Delaroche sentou-se a uma mesa junto à montra e pediu
frango assado e uma garrafa pequena de Côtes-du-Rhône. Era um bom restaurante