E
NAHALAL, ISRAEL
les a tinham tirado do mundo público sem fazer barulho algum e a contrabandeado até
sua cidadela pastoril secreta. Agora, vinha a parte difícil: a investigação, o inquérito, a
inquisição. O objetivo desse exercício desagradável era determinar se a dra. Natalie
Mizrahi, antigamente de Marselha, atualmente de Rehavia, em Jerusalém Ocidental, estava
preparada comportamental, intelectual e politicamente para o trabalho que tinham em
vista. Infelizmente, pensou Gabriel, era um trabalho que mulher alguma em sã
consciência jamais desejaria.
Recrutamentos, dizia o grande Ari Shamron, eram como seduções. E a maioria das
seduções, até as conduzidas por agentes de inteligência altamente treinados, envolve um
desnudamento mútuo das almas. Em geral, o recrutador se reveste de uma identidade
falsa, um personagem inventado que ele usa como terno e gravata, e muda conforme
necessário. Mas, nesta ocasião, no vale de sua infância, a alma que Gabriel abriu para
Natalie Mizrahi foi a sua própria.
— Só para constar — começou ele, depois de levar Natalie ao lugar dela na mesa do
almoço —, o nome que você leu nos jornais depois de minha suposta morte é meu
nome verdadeiro. Não é um pseudônimo nem um nome de trabalho; é o nome que eu
recebi quando nasci. Infelizmente, muitos outros detalhes de minha vida também
estavam corretos. Fui membro da unidade que vingou o assassinato do nosso povo em
Munique. Matei o vice da OLP em Tunis. Meu filho morreu em um atentado em Viena.
Minha mulher ficou gravemente ferida.
Ele não mencionou o fato de que tinha se casado novamente e tido outros filhos. O
compromisso com a verdade só ia até certo ponto. E, sim, continuou, apontando em
direção ao Monte Tabor para além do vale plano verde e marrom, ele tinha nascido no
assentamento agrícola de Ramat David, alguns anos depois da fundação do Estado de
Israel. A mãe dele chegara lá em 1948, depois de sair de Auschwitz cambaleando, quase
morta. Ela conheceu um homem de Munique, um escritor e intelectual que escapara da
Palestina antes da guerra. Na Alemanha, o nome dele fora Greenberg, mas, em Israel,
assumira o nome hebreu Allon. Depois de se casarem, juraram ter seis filhos, um para
cada milhão assassinado, mas o útero dela só conseguiu aguentar uma criança. Ela
nomeou-o Gabriel, o mensageiro de Deus, defensor de Israel, intérprete das visões de
Daniel. E imediatamente o rejeitou.
Os assentamentos e as habitações dos primórdios de Israel eram lugares de luto,