— Ali — respondeu Natalie, apontando para o outro lado da praça. — Estão à mesa
de sempre no Chez Claude.
Era um dos vários novos estabelecimentos que atendiam à crescente comunidade
franco-judaica de Netanya.
— Gostaria de conhecê-los? São realmente adoráveis.
— Vá você. Eu espero aqui.
Dina sentou-se em um banco perto da fonte e observou Natalie caminhando pela
esplanada, as pontas do hijab azul dançando como pendentes contra sua blusa branca.
Azul e branco, pensou Dina. Que lindamente israelense. Inconscientemente, esfregou a
perna machucada, que doía nas horas mais inconvenientes — quando estava cansada,
estressada ou, pensou, observando Natalie, quando se arrependia de seu
comportamento.
Natalie andou em linha reta até o café. O pai dela, magro, grisalho e muito moreno
do sol e do mar, olhou primeiro, surpreso em ver sua filha atravessando as pedras da
praça em direção a ele vestida como uma bandeira de Israel. Ele colocou uma mão no
braço da esposa e fez um gesto de cabeça na direção de Natalie, e um sorriso se abriu no
rosto nobre da mulher idosa. Era o rosto de Natalie, pensou Dina, Natalie daqui a trinta
anos. Será que Israel sobreviveria mais trinta anos? E Natalie?
Natalie se desviou de seu caminho, mas só para evitar uma criança, menina de 7 ou 8
anos, que corria atrás de uma bola. Então, beijou seus pais à maneira francesa, uma vez
em cada bochecha, e sentou-se em uma das duas cadeiras vazias. Era a cadeira que, talvez
não acidentalmente, imaginou Dina, dava as costas a ela. Dina observou o rosto da
mulher idosa. O sorriso evaporou conforme Natalie recitava as palavras que Dina
compusera para ela. “Vou ficar fora durante um tempo. É importante que vocês não
tentem entrar em contato. Se alguém perguntar, digam que estou fazendo uma pesquisa
importante e não posso ser interrompida. Não, não posso dizer sobre o que é, mas
alguém do governo vai vir dar uma olhada em vocês. Sim, vou estar segura.”
A bola perdida agora estava vindo em direção a Dina. Ela a segurou embaixo do pé
e, com um movimento do tornozelo, mandou de volta para a menina de 7 ou 8 anos,
uma pequena gentileza que causou uma dor lancinante em sua perna. Ela ignorou isso,
pois Natalie estava novamente beijando as bochechas de seus pais, desta vez para se
despedir. Enquanto cruzava a praça, com o crepúsculo iluminando seu rosto e a echarpe
azul esvoaçando na brisa, deixou uma única lágrima cair. Natalie era linda, observou
Dina, mesmo quando estava chorando. Ela se levantou e a seguiu de volta até o carro,
que estava estacionado em frente ao hotel decadente onde, numa noite sagrada, trinta
pessoas haviam morrido. É isso o que fazemos, Dina disse a si mesma enquanto
colocava a chave na ignição. É isso que somos. É a única forma de sobreviver nesta
terra. É nossa punição por ter sobrevivido.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1