mulher estudada, uma médica, presa entre o Oriente e o Ocidente, o presente e o
passado. Ela andava em uma corda bamba que ia da Casa do Islã até a Casa da Guerra, a
parte do mundo em que a fé ainda não era dominante. Leila estava em conflito. Era uma
garota influenciável.
Ensinaram a ela o básico de artes marciais, mas nada de armas, pois o conhecimento
de armas não condizia com o perfil de Leila. Então, quando estava na fazenda há três
semanas, eles a vestiram como muçulmana dos pés à cabeça e a levaram para um test drive
altamente protegido a Tayibe, maior cidade árabe no chamado Triângulo. Depois, ela
visitou Ramallah, a sede da autoridade palestina na Cisjordânia e, alguns dias mais tarde,
numa sexta-feira quente em meados de maio, foi à oração na Mesquita al-Aqsa, na Cidade
Antiga de Jerusalém. Foi um dia tenso — os israelenses proibiram alguns jovens de
entrar no Nobre Santuário — e depois houve um protesto violento. Natalie se separou
brevemente de seus seguranças à paisana. Finalmente, eles a arrastaram, engasgada com
gás lacrimogêneo, para o banco traseiro de um carro e correram com ela de volta para a
fazenda.
— Como você se sentiu? — perguntou Gabriel naquela noite, enquanto caminhavam
no ar frio do fim de tarde no vale. Naquele ponto, Natalie já não estava mais correndo,
pois correr também não condizia com o perfil de Leila.
— Fiquei com raiva — disse ela, sem hesitar.
— De quem?
— Dos israelenses, claro.
— Bom — respondeu ele. — Foi por isso que fiz.
— Fez o quê?
— Provoquei uma manifestação na Cidade Antiga para você ver.
— Você criou aquilo?
— Acredite, Natalie. Não foi tão difícil.
Ele não foi a Nahalal no dia seguinte, nem por cinco dias depois. Só mais tarde Natalie
saberia que ele estava em Paris e em Amã, preparando a introdução dela no campo — o
que chamava de “aragem operacional”. Quando, finalmente, voltou à fazenda, era meio-
dia de uma quinta-feira quente e com brisa, e Natalie estava se familiarizando com alguns
dos recursos únicos de seu novo celular. Ele a informou que iam fazer outra visita de
campo, só os dois, e a instruiu a se vestir como Leila. Ela escolheu um hijab verde com
bordados nas pontas, uma blusa branca que escondia a forma de seus seios e quadris, e
calças compridas que só deixavam visíveis o peito dos pés. Os escarpins eram Bruno
Magli. Leila, aparentemente, tinha uma queda por calçados italianos.
— Para onde vamos?