direção aos arcos de um antigo aqueduto, quase intacto, que se estendia ao longo de um
campo de soja. — Aquilo era delas. Levava água das fontes e irrigava os campos que
produziam os melões e as bananas mais doces da Galileia. Eles enterravam os mortos ali
— adicionou, balançando o braço para a direita — e rezavam a Alá ali — colocou as
mãos nas ruínas de uma porta arqueada: —na mesquita. Eram seus ancestrais, Leila.
Esta é você.
— “As minhas raízes foram lançadas antes do nascimento do tempo.”
— Está lendo o Darwish — ele caminhou mais para dentro das ervas e das ruínas,
mais para perto da estrada. Quando falou novamente, teve de levantar a voz para ser
ouvido, por conta do barulho do trânsito. — Sua casa ficava ali. Seus ancestrais se
chamavam Hadawi. É seu sobrenome também. Você é Leila Hadawi. Nasceu na França,
estudou na França e pratica medicina na França. Mas, quando alguém pergunta de onde
você é, você responde Sumayriyya.
— O que aconteceu aqui?
— Al-Nakba aconteceu aqui. A Operação Ben-Ami aconteceu aqui — ele olhou por
cima dos ombros. — Seus instrutores mencionaram Ben-Ami a você?
— Foi uma operação empreendida pelos Haganah na primavera de 1948 para
assegurar a estrada costeira entre Acre e a fronteira libanesa, e preparar a Galileia
Ocidental para a invasão iminente dos exércitos árabes.
— Mentiras sionistas! — gritou ele. — Ben-Ami tinha um único objetivo: capturar
as vilas árabes da Galileia Ocidental e empurrar seus habitantes para o exílio.
— É a verdade?
— Não importa se é verdade. É nisso que Leila acredita. É isso que ela sabe. Veja,
Leila, seu avô, Daoud Hadawi, estava lá na noite em que as forças sionistas de Haganah
vieram de Acre pela estrada em um comboio. Os moradores de Sumayriyya tinham
ficado sabendo do que acontecera em algumas das outras vilas conquistadas pelos
judeus, então fugiram imediatamente. Alguns poucos ficaram, mas a maioria fugiu para o
Líbano, onde esperaram que os exércitos árabes recuperassem a Palestina da mão dos
judeus. E quando os exércitos árabes foram derrotados, os aldeões de Sumayriyya se
tornaram refugiados, exilados. A família Hadawi viveu em Ein al-Hilweh, o maior
campo de refugiados palestinos no Líbano. Esgoto a céu aberto, casas de blocos de
concreto... O inferno na Terra.
Gabriel a levou pelos escombros das pequenas casas — casas dinamitadas pelos
Haganah logo depois da queda de Sumayriyya — e parou à beira de um pomar.
— Ele pertencia ao povo de Sumayriyya. Agora, é propriedade do kibutz. Muitos
anos atrás, estavam tendo dificuldade de fazer a água fluir pelos tubos de irrigação.
Apareceu um homem, um árabe que falava um pouco de hebraico e ensinou
pacientemente o que fazer. Os membros do kibutz ficaram impressionados e perguntaram
ao árabe como é que ele sabia fazer a água fluir. E sabe o que o árabe disse a eles?
— O pomar era dele.
— Não, Leila, o pomar era de todos vocês.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1