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O MARAIS, PARIS
oulouse acabaria sendo a ruína de Hannah Weinberg. Naquela noite, ela telefonou
para Alain Lambert, um contato no Ministério do Interior, e disse que, desta vez, alguma
coisa teria de ser feita. Alain prometeu uma resposta imediata. A reação seria corajosa,
garantiu ele a Hannah — coragem era a resposta padrão de um fonctionnaire que, na
realidade, não planejava fazer nada. Na manhã seguinte, o próprio ministro fez uma
visita ao local do ataque e emitiu um vago chamado “ao diálogo e à recuperação”. Aos
pais das três vítimas, ofereceu apenas lamentos.
— Faremos melhor — disse, antes de voltar apressadamente a Paris. — Temos de
fazer melhor.
As vítimas, dois meninos e uma menina, tinham 12 anos de idade e eram todas judias,
apesar de a mídia francesa não ter mencionado a religião nas primeiras notícias. Também
não se deu ao trabalho de mostrar que os seis agressores eram muçulmanos, disse
apenas que se tratava de jovens residentes da periferia, de uma banlieue localizada a leste
do centro da cidade. A descrição do ataque foi vaga a ponto de ficar incorreta. Segundo
as rádios francesas, ocorrera alguma espécie de discussão em frente a uma pâtisserie. Três
pessoas ficaram feridas, uma delas em estado grave. A polícia estava investigando.
Ninguém havia sido preso.
Na verdade, não fora uma discussão, mas uma emboscada bem planejada. E os
agressores não eram jovens, mas homens de 20 e poucos anos que tinham se aventurado
no centro de Toulouse em busca de judeus para ferir. O fato de suas vítimas serem
crianças não parecia incomodá-los. Eles chutaram, cuspiram e depois espancaram os
dois meninos, imobilizaram a garota contra o asfalto e cortaram seu rosto com uma faca.
Antes de fugirem, os seis agressores se viraram para um grupo de observadores em
choque e gritaram: “Khaybar, Khaybar, ya-Yahud!”. As testemunhas não sabiam, mas o
canto árabe era uma referência à conquista pelos muçulmanos, no século VII, de um
oásis judeu próximo à cidade sagrada de Medina. Sua mensagem era inconfundível. “Os
exércitos de Maomé”, diziam os seis homens, “estavam chegando para atacar os judeus
da França”.