— Você contou a ela que Ziad estava indo à Jordânia?
— Não.
— Contou à sua mãe ou ao seu pai?
— Não.
— E à polícia francesa?
— Não.
— E ao seu contato na inteligência jordaniana? Você contou a ele, Leila?
— O quê?
— Responda à pergunta — vociferou Dina.
— Eu não tenho um contato na inteligência jordaniana.
— Você denunciou Ziad para os jordanianos?
— Não.
— Você é responsável pela morte dele?
— Não.
— E na noite de seu primeiro encontro? — perguntou Dina, mudando
repentinamente de rumo. — Você bebeu vinho no jantar?
— Não.
— Por que não?
— É haraam — respondeu Natalie.
Naquela noite, quando voltou ao seu quarto, o volume de poesia de Darwish estava
de novo sobre o criado-mudo. Ela iria embora logo, pensou. Era só uma questão de
quando.
Essa mesma questão — a questão de quando — foi assunto de um encontro entre
Gabriel e Uzi Navot no boulevard Rei Saul naquela mesma noite. Entre eles, enfileiradas
sobre a mesa de reunião de Navot, estavam as conclusões por escrito de diversos
treinadores, médicos e psiquiatras que cuidavam do caso. Todos declaravam que Natalie
Mizrahi estava sã de corpo e mente, e era mais do que capaz de executar a missão para a
qual fora recrutada. Nenhum dos relatórios, porém, era tão importante quanto as
opiniões do chefe do Escritório e do homem que o sucederia. Ambos eram agentes de
campo veteranos que tinham passado boa parte de suas carreiras sob identidades falsas.
E eles seriam os únicos a sofrer as consequências se algo desse errado.
— É só a França — disse Navot.
— Sim — falou Gabriel, sombriamente. — Nada nunca acontece na França.
Houve um silêncio.
— Bem? — perguntou Navot, enfim.
— Gostaria de testá-la uma última vez.