pararam no homem sentado do lado oposto da mesa. Ele estava vestido inteiramente de
preto, e um keffiyeh preto cobria seu rosto por completo, com exceção dos olhos, que
também eram pretos. A figura à direta dele estava vestida de forma idêntica, bem como
aquela à esquerda.
— Diga-me seu nome — exigiu a figura em frente a ela, em árabe.
— Meu nome é Leila Hadawi.
— Não o nome que os sionistas lhe deram! — gritou ele. — Seu nome verdadeiro.
Seu nome judeu.
— Esse é meu nome verdadeiro. Eu sou Leila Hadawi. Cresci na França, mas sou de
Sumayriyya.
Mas ele não estava acreditando em nada daquilo — nem no nome dela, nem na etnia
declarada, nem na religião, nem na história de infância na França, pelo menos não em
tudo. Ele estava em posse de um arquivo que disse ter sido preparado pelo
departamento de segurança de sua organização, embora não tenha dito exatamente qual
organização era aquela, só que seus membros imitavam os seguidores originais de
Maomé, que a paz esteja com ele. O arquivo supostamente provava que o nome
verdadeiro dela era Natalie Mizrahi, que ela era obviamente judia, que era uma agente do
serviço secreto de inteligência de Israel treinada em uma fazenda no vale de Jezreel. Ela
garantiu a ele que nunca tinha pisado, nem nunca pisaria em Israel — e que o único
treinamento que já tinha recebido fora na Université Paris-Sud, onde estudara Medicina.
— Mentiras — disse o homem de preto.
Isso não deixava opção, completou ele, a não ser começar tudo de novo. Sob seu
inflexível interrogatório, a noção de tempo de Natalie a abandonou. Até onde ela era
capaz de saber, já podia ter se passado uma semana desde que seu sono fora
interrompido. A cabeça dela doía por falta de cafeína, as luzes fortes eram intoleráveis.
Ainda assim, as respostas fluíam sem esforço, como a água descendo pelo morro. Ela
não estava lembrando algo que tinha aprendido, estava lembrando algo que sabia. Não
era mais Natalie. Era Leila. A Leila de Sumayriyya. A Leila que amava Ziad. A Leila que
queria vingança.
Finalmente, o homem do outro lado da mesa fechou seu arquivo. Ele olhou para a
figura à sua direita, depois para a outra à sua esquerda. Então, desamarrou o lenço da
cabeça para revelar seu rosto. Era o homem de rosto esburacado. Os outros dois
também removeram os keffiyehs. O da esquerda era o homem de rosto misterioso e
cabelos finos. O da direita era o de pele pálida e sem sangue e olhos glaciais. Todos os
três estavam sorrindo, mas Natalie de repente começou a chorar. Gabriel se aproximou
dela suavemente por trás e colocou uma mão no ombro que balançava.