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AUBERVILLIERS, FRANÇA
ez dias depois, a Clínica Jacques Chirac foi inaugurada com pouco alarde na banlieue
de Aubervilliers, no norte de Paris. O ministro da Saúde foi à cerimônia, bem como um
jogador de futebol popular da Costa do Marfim, que cortou uma faixa azul, branca e
vermelha ao som abafado pela chuva de aplausos de vários ativistas da comunidade
reunidos para a ocasião. Uma emissora de televisão francesa exibiu uma pequena matéria
sobre a abertura no principal jornal da noite. Le Monde, em um editorial curto, disse que
era um começo promissor.
O objetivo da clínica era melhorar a vida daqueles que residiam em um subúrbio
tumultuoso com altas taxas de criminalidade e desemprego e escassez de serviços
públicos. Oficialmente, o Ministério da Saúde supervisionaria as operações da clínica no
dia a dia, mas, na realidade, tratava-se de uma empreitada conjunta do Ministério e do
Grupo Alphade Paul Rousseau. O gerente da clínica, um homem chamado Roland
Girard, era agente do Grupo Alpha, bem como a bela recepcionista. As seis enfermeiras
e dois dos três médicos, porém, não sabiam nada da dupla função da clínica. Todos eram
contratados do sistema de saúde do governo francês e tinham sido escolhidos para o
projeto após rigorosa checagem. Ninguém conhecia a dra. Leila Hadawi, nem tinham
feito faculdade de Medicina com ela ou trabalhado nos mesmos lugares antes. A clínica
ficava na avenue Victor Hugo, entre uma lavanderia vinte e quatro horas e um tabac
frequentado por membros de uma gangue de traficantes marroquinos da região.
Plátanos faziam sombra na calçada em frente à modesta entrada da clínica, acima da qual
havia três outros andares no bonito prédio antigo com fachada marrom e janelas com
persiana. Mas, para trás da avenida, erguiam-se as gigantes lajes cinza das cités, as
propriedades de habitação popular que abrigavam os pobres e os estrangeiros,
principalmente aqueles vindos da África e de antigas colônias francesas do Magrebe. Era
a parte da França onde raramente poetas e cronistas de viagem se aventuravam; a França
do crime, do ressentimento imigrante e, cada vez mais, do islã radical. Metade dos
residentes da banlieue nascera fora do país, três quartos dos jovens. Alienados,
marginalizados, estavam só aguardando para ser recrutados pelo ISIS.
No primeiro dia de funcionamento da clínica, ela foi objeto de alguma curiosidade,
ainda que cética. Mas, na manhã seguinte, já estava recebendo um fluxo contínuo de
pacientes. Muitos estavam indo para a primeira consulta depois de muito tempo. E
alguns, especialmente os recém-chegados do interior do Marrocos e da Argélia, estavam