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RUE DU LOMBARD, BRUXELAS
urante uma de suas muitas visitas à sede do DGI em Amã, Gabriel se apossara de
vários HDs portáteis. Neles estava o conteúdo do notebook de Jalal Nasser, baixado
durante suas repetidas visitas à Jordânia ou durante batidas secretas em seu apartamento
em Bethnal Green, no Leste de Londres. O DGI não encontrara nada suspeito —
nenhum jihadista conhecido nos contatos, nenhuma visita a sites jihadistas no histórico
do navegador —, mas Fareed Barakat concordou em deixar o Escritório olhar mais uma
vez. Os ciberdetetives do boulevard Rei Saul demoraram menos de uma hora para
encontrar um sagaz alçapão disfarçado dentro de um aplicativo de jogos de aparência
inócua. Ele levava a um porão altamente criptografado cheio de nomes, telefones, e-mails
e fotografias, incluindo várias do Centro Weinberg, em Paris. Havia até uma foto de
Hannah Weinberg saindo de seu apartamento na rue Pavée. Gabriel deu a notícia a
Fareed de forma gentil, para não machucar o enorme ego de seu parceiro.
— Às vezes — disse Gabriel —, é bom ter os olhos descansados.
— Ou ter um judeu inteligente com PhD pela Caltech — respondeu Fareed.
— Também.
Entre os nomes que apareciam mais vezes nesse tesouro escondido estava o de Nabil
Awad, nascido na cidade jordaniana de Irbid, atualmente morando no bairro de
Molenbeek, em Bruxelas. Separado do elegante centro da cidade por um canal industrial,
Molenbeek já fora ocupada por valões católico-romanos e flamengos protestantes que
trabalharam nas muitas fábricas e armazéns do bairro. As fábricas estavam no passado,
bem como os habitantes originais de Molenbeek, que agora era uma vila muçulmana de
cem mil pessoas, onde o chamado à oração ecoava cinco vezes por dia de 22 mesquitas
diferentes. Nabil Awad morava na rue Ransfort, uma rua estreita ladeada pelas varandas
de casas de tijolos do século XIX caindo aos pedaços que tinham sido divididas em
blocos superlotados. Ele trabalhava meio-período em uma copiadora em Bruxelas
central, mas, como muitos jovens que moravam em Molenbeek, sua principal ocupação
era o islã radical. Entre os profissionais de segurança, Molenbeek era conhecida como
capital jihadista da Europa.
O bairro não era lugar para um homem com os gostos refinados de Fareed Barakat.
Aliás, o hotel de 60 euros a noite na rue Lombard, onde ele se encontrou com Gabriel,
também não era. Fareed tinha se vestido mais discretamente para a ocasião — um blazer
italiano, calças cinza-claro, uma camisa com abotoaduras francesas, sem gravata. Depois