A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

A


NORTE DA FRANÇA

participação de Paul Rousseau no que se seguiu limitou-se à aquisição de uma
propriedade segura perto da fronteira belga, cujo custo ele enterrou nas profundezas de
seu orçamento operacional. Avisou a Gabriel e Fareed Barakat para evitarem usar em seu
prisioneiro qualquer tática que pudesse ser remotamente interpretada como tortura.
Mesmo assim, Rousseau estava voando perigosamente perto do sol. Não havia cláusula
na lei francesa que permitisse a captura extrajudicial de um residente belga em território
belga, ainda que esse residente belga fosse suspeito de envolvimento em um ato de
terrorismo cometido na França. Se a operação se tornasse pública, o resultado do
escândalo certamente seria a demissão de Rousseau. Era um risco que ele estava disposto
a correr. Considerava seus pares da Sûreté belga tolos incompetentes que tinham
permitido a criação de um refúgio do ISIS no coração da Europa. Em várias ocasiões, a
Sûreté falhara na transmissão de informações vitais relacionadas às ameaças contra alvos
franceses. Rousseau considerava estar apenas devolvendo o favor.
A propriedade segura era uma pequena casa de campo isolada perto de Lille. Nabil
Awad não sabia disso, pois tinha passado a viagem vendado por um capuz e ensurdecido
por tampões de ouvido. A sala de jantar apertada tinha sido preparada para sua chegada
— uma mesa de metal, duas cadeiras, uma luminária com uma lâmpada clara como o sol,
nada mais. Mikhail e Yaakov prenderam Nabil Awad com fita vedante a uma das cadeiras
e, a um sinal de Fareed Barakat, um aceno quase imperceptível de sua cabeça régia,
tiraram o capuz. Instantaneamente, o jovem jordaniano se encolheu de medo do temível
Mukhabarat sentado ao lado oposto da mesa. Para alguém como Nabil Awad, um
jordaniano de família modesta, era o pior lugar do mundo para estar. Era o fim da linha.
O silêncio que se seguiu durou vários minutos e enervou até Gabriel, que estava
assistindo do canto escuro do cômodo, com Eli Lavon ao seu lado. Os jordanianos
tinham isso, pensou Gabriel. Não precisavam torturar; sua reputação os precedia. Era o
que lhes permitia se acharem superiores ao serviço similar no Egito. A versão egípcia do
Mukhabarat pendurava seus prisioneiros em ganchos antes de se dar ao trabalho de dizer
oi.
Com outro pequeno aceno, Fareed instruiu Mikhail a colocar o capuz de volta na
cabeça do prisioneiro. Os jordanianos, sabia Gabriel, eram grandes defensores da
privação sensorial. Um homem privado da capacidade de ver e ouvir fica desorientado
muito rapidamente, às vezes dentro de minutos. Ele fica ansioso e deprimido, ouve
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