acendia com o fluxo de meia dúzia de aplicativos de mensagens e redes sociais diferentes.
O telefone estava nas hábeis mãos de Mordecai, um especialista em tudo de eletrônica que
peneirava sistematicamente a memória do aparelho em busca de conteúdo valioso. Duas
equipes, uma na sede do DGI, a outra no boulevard Rei Saul, analisavam rapidamente a
pilha de informações. Juntas, escreviam as respostas que Mordecai enviava daquele
próprio telefone, respostas que manteriam Nabil Awad vivo nas mentes de seus amigos,
familiares e colegas viajantes do movimento jihadista global. Um passo em falso, uma
palavra desgarrada poderiam arruinar toda a operação.
Era uma corda bamba e uma amostra impressionante de cooperação entre os
serviços. A guerra global contra o extremismo islâmico realmente criava alianças
estranhas, nenhuma mais estranha que a entre Gabriel Allon e Fareed Barakat. Na
juventude, tinham estado de lados opostos da grande barreira árabe-israelense, e seus
países travaram uma batalha terrível, na qual o lado de Fareed massacrou o máximo
possível de judeus e expulsou o resto em direção ao mar. Agora, eram aliados em um
novo tipo de guerra, uma guerra contra os que matavam em nome do antigo ancestral de
Fareed. Era uma guerra longa, talvez sem fim.
Naquela noite, a guerra estava sendo travada não no Iêmen, no Paquistão ou no
Afeganistão, mas em uma casa de campo isolada perto de Lille, perto da fronteira belga.
Era lutada em intervalos de duas horas — às vezes duas horas e quinze minutos, às
vezes menos — e três perguntas de cada vez. Qual foi exatamente seu papel nos ataques
em Paris e Amsterdã? Como você se comunica com Jalal Nasser? Quem é Saladin?
— Tem certeza, habibi? Tem certeza de que essa é sua resposta?
— Sim, tenho certeza.
Mas ele não tinha certeza, nem um pouco, e a cada aparição encapuzada perante
Fareed, sua confiança se abalava, bem como sua força de vontade em resistir. Pela
manhã, estava falando com um companheiro de cela que não existia, e à tarde já não
conseguia subir o lance de escadas que partiam do porão. Foi então que Fareed removeu
o capuz da cabeça de seu prisioneiro e colocou diante dele uma fotografia de uma mulher
velada de rosto redondo. Outras fotos se seguiram — um homem usando um keffiyeh
branco e preto, um menino de uns 16 anos, uma jovem bonita. Eram eles que pagariam
o preço pelas ações de Nabil Awad. Os mais velhos morreriam humilhados, os mais
jovens não teriam futuro. Os jordanianos tinham isso também, pensou Gabriel. Eles
podiam destruir vidas — não só a vida de um terrorista, mas uma geração de vidas.
Ninguém sabia disso melhor que Nabil Awad, que logo começou a soluçar no abraço
poderoso de Fareed. O interrogador prometeu que tudo ficaria bem. Mas, primeiro,
disse gentilmente, teriam uma conversinha.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1