–L
AUBERVILLIERS, FRANÇA
eila? É você? Sou Jalal. Jalal Nasser, de Londres. Lembra-se de mim? Nos
conhecemos há algumas semanas. Posso me juntar a você? Eu ia mesmo tomar um café.
Ele falou tudo isso em um arroubo de árabe jordaniano clássico, em pé ao lado da
mesa de sempre de Natalie no café em frente a seu apartamento. Era o fim da manhã
seguinte, um domingo, o ar estava frio e suave, o sol solto em um céu sem nuvens. O
trânsito na rua estava leve; consequentemente, Natalie o vira caminhando pela calçada de
longe. Passando pela mesa dela, ele parara abruptamente — como Natalie tinha feito no
Jardim de Luxemburgo — e se virara como se tivessem batido em seu ombro.
Aproximara-se dela lentamente e se posicionara de modo que o sol em suas costas e sua
longa sombra caíssem sobre o jornal aberto de Natalie. Olhando para cima, ela cobriu os
olhos e o examinou friamente, como se pela primeira vez. Seu cabelo era muito
encaracolado e bem penteado, a mandíbula era quadrada e forte, o sorriso era contido,
mas afetuoso. As mulheres o achavam atraente, e ele sabia disso.
— Você está bloqueando a luz — disse ela.
Ele segurou as costas de uma cadeira vazia.
— Posso?
Antes que Natalie pudesse protestar, ele puxou a cadeira da mesa e se acomodou com
ares de proprietário. E ali estava, pensou ela. Toda a preparação, todo o treinamento —
e agora ele se sentava diante dela, aquele que queriam, aquele que a colocaria nas mãos de
Saladin. De um golpe ela percebeu que seu coração batia forte como um sino de aço. Seu
desconforto deve ter ficado aparente, pois ele colocou uma mão na manga de sua blusa
de seda discreta. Sob o olhar de reprovação dela, recolheu-a rapidamente.
— Me perdoe. Não quero que fique nervosa.
Mas ela não estava nervosa, disse a si mesma. E por que estaria? Estava em seu café
de sempre em frente a seu apartamento. Ela era um membro respeitado da comunidade,
uma curadora que cuidava dos residentes das cités e falava com eles em sua língua nativa,
ainda que com um distinto sotaque palestino. Era a dra. Leila Hadawi, formada na
Université Paris-Sud, totalmente qualificada e autorizada para praticar medicina pelo
governo da França. Era a Leila de Sumayriyya, a Leila que amava Ziad. E a bela criatura
que acabara de interromper seu café de domingo de manhã, que ousara tocar a barra de
sua manga, não significava nada.
— Desculpe — disse ela, dobrando o jornal distraidamente —, mas não gravei seu