— Desculpe — disse ela, dobrando o jornal distraidamente —, mas não gravei seu
nome.
— Jalal — repetiu ele. — Jalal Nasser.
— Jalal, de Londres?
— Sim.
— E, segundo você, nos conhecemos antes?
— Brevemente.
— Isso explicaria por que não me lembro de você.
— Pode ser.
— E onde exatamente nos conhecemos?
— Foi na Place de le République, dois meses atrás. Ou, talvez, três. Teve uma
manifestação contra...
— Eu lembro — ela apertou os olhos pensativamente. — Mas não me lembro de
você.
— Nos falamos depois. Eu disse que admirava sua paixão e seu comprometimento
com a questão da Palestina. Disse que queria discutir isso mais a fundo com você.
Escrevi meus contatos no verso de um panfleto e dei a você.
— Se você diz — fingindo tédio, ela olhou para a rua. — Você usa essa abordagem
cansativa com todas as mulheres que vê sentadas sozinhas em cafés?
— Está me acusando de inventar essa história toda?
— Talvez esteja.
— E como eu saberia que você estava na manifestação na Place de la République se
eu não estivesse lá?
— Ainda não descobri essa parte.
— Eu sei que você estava lá — disse ele — porque eu também estava lá.
— É o que você diz.
Ele chamou o garçom e pediu um café crème. Natalie virou a cabeça e sorriu.
— O que é tão engraçado?
— Seu francês é abominável.
— Eu moro em Londres.
— Sim — disse ela —, já combinamos isso.
— Estudo na King’s College — explicou ele.
— Você não é um pouco velho demais para ser estudante?
— Meu pai diz a mesma coisa.
— Seu pai parece um homem sábio. Ele mora em Londres também?
— Em Amã — ele ficou em silêncio enquanto o garçom colocava um café diante
dele. Depois, casualmente, perguntou: — Sua mãe é da Jordânia, não é?
Dessa vez, o silêncio foi de Leila. Era o silêncio da suspeita, o silêncio de uma
exilada.
— Como você sabe que minha mãe é da Jordânia? — perguntou, enfim.
— Você me disse.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1