— Quando?
— Depois da manifestação, claro. Você me disse que a família de sua mãe morava em
Nablus. Disse que fugiram para a Jordânia e foram forçados a morar no campo de
refugiados de Zarqa. Eu conheço esse campo, aliás. Tenho muitos amigos desse campo.
Costumava rezar na mesquita de lá. Você conhece a mesquita do campo de Zarqa?
— Você está falando da Mesquita al-Falah?
— Sim, essa mesma.
— Conheço bem — disse ela. — Mas tenho bastante certeza de que nunca mencionei
nada disso a você.
— E como eu poderia saber sobre sua mãe se você não tivesse me dito?
De novo, ela ficou em silêncio.
— Você também me falou de seu pai.
— Impossível.
Ele ignorou o protesto.
— Ele não era de Jenin como a sua mãe. Era da Galileia Ocidental — ele pausou. E
então completou: — De Sumayriyya.
A expressão dela ficou sombria e ela fez uma série de pequenos gestos aos quais os
interrogadores se referem como ações de distanciamento. Ajustou o hijab, batucou com a
unha na borda da xícara de café, olhou nervosamente ao redor da rua silenciosa de
domingo — para qualquer lugar que não o rosto do homem sentado do outro lado da
mesa, o homem que a colocaria nas mãos de Saladin.
— Eu não sei quem você é — disse ela, por fim —, mas nunca lhe disse nada sobre
meus pais. Na verdade, tenho certeza de que nunca o vi até agora.
— Nunca?
— Não.
— Então como eu sei essas coisas sobre você?
— Talvez seja da DGSI.
— Eu? Da inteligência francesa? Meu francês é terrível. Você mesma disse isso.
— Então, talvez você seja americano. Ou israelense — adicionou ela.
— Você é paranoica.
— É porque sou palestina. E, se você não me disser quem é de verdade e o que
quer, vou embora. E há uma boa chance de eu achar o gendarme mais próximo e contar
para ele sobre o estranho que sabe coisas sobre mim que não deveria saber.
— Nunca é uma boa ideia um muçulmano se envolver com a polícia francesa, Leila.
Vão acabar abrindo um arquivo secreto sobre você. E, se fizerem isso, vão ficar sabendo
de coisas que podem se provar prejudiciais para alguém na sua posição.
Sem dizer nada, ela colocou uma nota de 5 euros ao lado do café e começou a se
levantar, mas novamente ele colocou a mão no braço dela — não levemente, mas com
firmeza chocante. E o tempo todo estava sorrindo para despistar os imigrantes e
franceses nativos que passavam à luz suave do sul.
— Quem é você? — murmurou ela através de dentes cerrados.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1