A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

a verdade embaixo de seu véu. Ela respirou fundo para desacelerar as batidas de seu
coração. Estou na França, disse a si mesma. Nada vai me acontecer aqui.
Vários minutos se passaram, tempo suficiente para Natalie se perguntar se Jalal
Nasser tinha decidido abortar o encontro. Atrás dela, a porta da farmácia se abriu e de lá
saiu um francês que poderia ser confundido com um norte-africano. Natalie o
reconheceu; era um de seus vigias do serviço de segurança francês. Ele passou por ela
sem uma palavra e entrou no banco traseiro de um Renault amassado. Aproximando-se
do carro por trás estava uma motocicleta preta, grande o suficiente para acomodar dois
passageiros. Parou do lado de fora da farmácia, a alguns passos de onde Natalie estava.
O motorista levantou o visor do capacete e sorriu.
— Você está atrasado — disse Natalie, irritada.
— Na verdade — disse Jalal Nasser —, você estava adiantada.
— Como você sabe?
— Porque eu a segui.
Ele tirou um segundo capacete do compartimento traseiro. Com desconfiança,
Natalie o aceitou. Era algo que não tinha sido explicado durante seu treinamento na
fazenda em Nahalal, como usar um capacete sobre um hijab. Colocou-o cuidadosamente,
afivelou-o abaixo do queixo e subiu na traseira da moto, que instantaneamente se jogou
no tráfego. Enquanto corriam pelos cânions das cités como um borrão, Natalie abraçou a
cintura de Jalal Nasser e se segurou com medo de morrer. Estou na França, ela
reassegurou a si mesma. Nada vai me acontecer aqui. Então, percebeu seu erro. Não
estava na França, não mais.


No início daquela tarde, no elegante salão do Château Treville, houvera um intenso
debate em relação ao nível de vigilância requerido para o encontro daquela noite.
Gabriel, talvez devido à pressão da chefia iminente, queria o máximo possível de olhos
em sua agente, tanto humanos quanto eletrônicos. Só Eli Lavon ousou dar uma opinião
contrária. Lavon conhecia as possibilidades de vigilância e suas armadilhas. Claramente,
argumentou, Jalal Nasser pretendia levar sua potencial recruta para um teste de detecção
de vigilância antes de abrir sua alma jihadista a ela. E, se descobrisse que estavam sendo
seguidos, a operação estaria arruinada para sempre antes de sair do porto. Também não
era possível, disse Lavon, esconder um sinal de rastreamento em Natalie, pois os agentes
de tecnologia do ISIS e da al-Qaeda saberiam encontrar.
Foi uma discussão fraterna, mas acirrada. Vozes se levantaram, insultos leves foram
trocados e um pedaço de fruta — uma banana, dentre todas as coisas — foi jogado em
um momento de frustração, embora, depois, Lavon tenha insistido que a abaixada
relâmpago de Gabriel, ainda que impressionante, fora totalmente desnecessária, porque

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