N
AUBERVILLIERS, FRANÇA
aquela noite, Natalie não conseguiu dormir. Ficou deitada na cama por um tempo,
decorando cada palavra que Jalal Nasser tinha dito. Depois, lutou com os lençóis
enquanto em sua mente corriam pensamentos do que a esperava. Para se distrair, assistiu
a um documentário entediante na televisão francesa e, quando isso não funcionou, abriu
seu laptop e navegou na internet. Mas não nos sites jihadistas; Jalal lhe tinha avisado para
evitar esses. Natalie agora era serva de dois mestres, uma mulher com dois amantes.
Quando o sono finalmente chegou, foi Jalal que a visitou em seus sonhos. Ele prendeu
um colete suicida ao corpo nu dela e a beijou suavemente. Você tem sorte, disse. Vai fazer
algo incrivelmente importante. Ela acordou grogue, agitada e com uma enxaqueca que
nenhuma quantidade de remédio ou de cafeína aliviaria. Um Deus benevolente poderia
ter lhe dado um dia tranquilo na clínica, mas um desfile de doenças a manteve correndo
de uma sala de exames a outra até as seis da tarde. Quando estava saindo do trabalho,
Roland Girard, o diretor administrativo de fachada da clínica, a convidou para tomar um
café. Na rua, ele a ajudou a entrar no banco da frente de seu Peugeot sedã e, durante os
quarenta e cinco minutos seguintes, não falou uma palavra enquanto seguia por um
caminho tortuoso até o centro de Paris. Quando estavam passando pelo Museu de
Orsay, o celular dele apitou com uma mensagem. Depois de lê-la, ele atravessou o Sena
e foi até a rue de Grenelle, no sétimo arrondissement, onde embicou o carro no portão de
segurança de um belo prédio de cor creme. Nele estava escrito SOCIÉTÉ
INTERNATIONALE POUR LA LITTÉRATURE FRANÇAISE.
— Uma noite de Balzac?
Ele desligou o motor e a levou para dentro. No saguão, ela viu de relance o francês
com cara de árabe que tinha encontrado saindo da farmácia em La Courneuve e, na
escada, passou por um frequentador do café na rua de seu apartamento. O último andar
do prédio parecia um banco depois do expediente. Uma mulher com ar sério estava
sentada atrás de uma mesa organizada, enquanto, em um escritório adjacente, um homem
com um terno elegante olhava para seu computador como se este fosse uma testemunha
que não cooperava. Dois homens esperavam em uma sala de reuniões envidraçada. Um
fumava cachimbo e usava um blazer amassado; o outro era Gabriel.
— Leila — disse ele formalmente. — Que bom vê-la de novo. Parece bem. Um
pouco cansada, mas bem.
— Foi uma noite longa.