A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Só para constar — disse Carter —, fiquei muito aliviado em saber que os relatos
de seu fim eram prematuros. Talvez um dia você me conte por que fez aquilo.
— Talvez, algum dia. E sim — completou Gabriel —, eu adoraria um café.
Carter serviu mais uma xícara.
— Imaginei que estivesse cansado da Síria depois da sua última operação — disse
ele, entregando o café a Gabriel. — Quanto aquilo lhe custou? Lembro algo como oito
bilhões de dólares.
— Oito vírgula dois — respondeu Gabriel. — Mas quem está contando?
— Bem caro por uma única vida humana.
— Foi o melhor negócio que eu já fiz. E você teria feito o mesmo no meu lugar.
— Mas eu não estava no seu lugar — disse Carter —, porque você também não
contou para a gente sobre aquela operação.
— E você não contou para nós que seu governo estava secretamente negociando
com os iranianos, contou, Adrian? Depois de todo o trabalho que fizemos juntos para
adiar o programa, você nos pegou de surpresa.
— Não fui eu quem pegou vocês de surpresa, foi meu presidente. Eu não faço
política, eu roubo segredos e produzo análises. Na verdade — completou Carter depois
de uma pausa considerada —, quase nem faço isso mais. Mato terroristas,
principalmente.
— Não mata o suficiente.
— Imagino que você esteja se referindo à nossa política em relação ao ISIS.
— Se é assim que você quer chamar. Primeiro, vocês não conseguiram ver a
tempestade se formando. Depois, recusaram-se a levar uma capa de chuva e um guarda-
chuva.
— Não fomos os únicos que não viram a ascensão do ISIS. O Escritório também
não viu.
— Estávamos ocupados com o Irã na época. Você se lembra do Irã, não é, Adrian?
Houve silêncio.
— Vamos parar com isso — disse Carter depois de um minuto. — Conquistamos
coisas demais junto para permitir que um político nos separe.
Era um gesto de paz. Com um aceno, Gabriel o aceitou.
— É verdade — disse Carter. — Chegamos atrasados para a festa do ISIS. Também
é verdade que, depois de chegar à festa, evitamos o bufê e o ponche. É que, depois de
tantos anos indo a essas festas, ficamos cansados delas. Nosso presidente deixou bem
claro que a última, aquela no Iraque, foi um tédio. E custou caro também, em sangue e
tesouro americano. E ele não tem interesse nenhum em dar outra na Síria, especialmente
porque seria um conflito na narrativa.
— Que narrativa?
— A narrativa sobre como reagimos de forma exagerada ao 11 de Setembro. A
narrativa sobre como o terrorismo é uma chateação, não uma ameaça. A narrativa sobre
como podemos aguentar outro ataque igual ao que destruiu nossa economia e nosso

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