A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Ele era um de nós?
— Não exatamente — repetiu ela. — Ele foi preso pelos jordanianos antes de
conseguir atravessar para a Síria.
— Morreu refém dos jordanianos?
Ela assentiu lentamente.
— Onde o conheceu?
— Na Paris-Sud.
— E o que ele estudava?
— Eletrônica.
— Sim, eu sei — ele apoiou as páginas no tapete. — Temos muitos apoiadores na
Jordânia. Muitos de nossos irmãos eram cidadãos jordanianos. E nenhum deles jamais
ouviu falar de alguém chamado Ziad al-Masri.
— O Ziad nunca foi engajado politicamente na Jordânia — respondeu ela, com
muito mais calma do que teria pensado ser possível. — Ele só se radicalizou depois de
se mudar para a Europa.
— Ele era membro do Hizb ut-Tahrir?
— Não formalmente.
— Isso explica por que nenhum de nossos irmãos do Hizb ut-Tahrir ouviu falar
dele também.
Ele olhou calmamente para Natalie enquanto outra cachoeira de suor caía pelas costas
dela.
— Você não está bebendo seu chá.
— É porque você está me deixando nervosa.
— Era minha intenção. — O comentário dele provocou risadas contidas nos três
homens sentados atrás. Ele esperou que parassem antes de ele continuar. — Por muito
tempo, os americanos e os amigos deles na Europa não nos levaram a sério. Eles nos
diminuíram, chamaram-nos de nomes bobos. Mas agora percebem que somos uma
ameaça e estão tentando se infiltrar entre nós de todas as formas. Os britânicos são os
piores. Toda vez que pegam um muçulmano britânico viajando para o califado, tentam
transformá-lo em espião. Sempre os encontramos muito rápido. Às vezes, os usamos
contra os próprios britânicos. E às vezes — disse, dando de ombros —, simplesmente
os matamos.
Ele deixou que o silêncio pesasse sobre o cômodo abafado. Foi Natalie que o
quebrou.
— Não pedi para me unir a vocês — disse ela. — Foram vocês que me pediram.
— Não, Jalal pediu que você viesse à Síria, não eu. Mas sou eu que vou determinar
se você vai ficar. — Ele reuniu as páginas do arquivo. — Gostaria de ouvir sua história
desde o começo, Leila. Seria muito útil.
— Eu nasci...
— Não — disse ele, interrompendo-a. — Eu disse desde o começo.
Confusa, ela não disse nada. O iraquiano estava de novo consultando o arquivo dela.

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