A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

pensou, olhando para Uzi Navot sentado calmamente em sua devida cadeira, não tivesse
o necessário para aguentar o peso do comando, afinal.
O dia passou lentamente. As duas SUVs continuavam no pátio, os jihadistas
permaneciam sentados à sombra das tamareiras. Então, a sombra dissipou com o pôr do
sol e chamas se acenderam na escuridão. O Ofek 10 passou para o modo infravermelho.
Às nove da noite, detectou várias assinaturas de calor humanas emergindo da casa.
Quatro das assinaturas entraram em uma das SUVs. A quinta, de uma mulher, entrou na
outra. O drone seguiu um dos veículos até Mosul; o Ofek 10 viu o outro fazer a viagem
de volta para Raqqa. Ali, estacionou em frente a um prédio residencial perto do Parque
al-Rasheed, e uma única assinatura de calor, uma mulher, emergiu do banco traseiro. Ela
entrou no apartamento pouco antes da meia-noite e desapareceu.


Em um cômodo no segundo andar do prédio, um saudita magro e encarquilhado estava
explicando para dezenas de soldados hipnotizados o papel que eles teriam, inshallah, em
trazer o fim dos dias. A hora estava próxima, declarou, mais próxima do que
imaginavam. Cansada do interrogatório árduo, cega pela exaustão e pelo abaya, Natalie
não conseguia imaginar um motivo para duvidar da profecia.
A escada, como sempre, estava na escuridão total. Ela contou baixinho em árabe os
degraus, 14 por lance, dois lances por andar. O cômodo dela ficava no sexto, a 12 passos
da escada. Ao entrar, ela fechou a porta atrás de si sem fazer barulho. Um facho de luar
passava da única janela até a forma feminina deitada em uma bola no chão.
Silenciosamente, Natalie tirou seu abaya e fez uma cama para se deitar. Mas, quando
deitou a cabeça, a forma feminina do outro lado do cômodo se mexeu e se sentou.
— Miranda? — perguntou Natalie, mas não houve resposta a não ser pelo acender
de um fósforo. Sua chama tocou o pavio de uma lamparina a óleo. A luz quente encheu o
cômodo.
Natalie também se sentou, esperando ver traços celtas delicados. Em vez disso, ela se
viu olhando para um par de olhos largos de cor avelã e cobre.
— Quem é você? — perguntou ela em árabe, mas sua nova colega de quarto
respondeu em francês.
— Meu nome é Safia Bourihane — disse, estendendo a mão. — Bem-vinda ao
califado.

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