A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

seu redor. Seu rosto estava pálido como a morte. Ou seria a poeira cinza? Do outro lado
do cômodo, Natalie não conseguia saber.
O iraquiano mais velho a empurrou para a frente. Ela passou pelo cilindro de sol; o
calor dele era como lava. Diante dela, houve um movimento, e abriu-se um lugar para
ela entre os enlutados. Ela parou e olhou para o homem na maca. Não havia poeira em
seu rosto. A cor acinzentada era dele próprio, resultado da perda substancial de sangue.
Ele sofrera duas feridas visíveis, uma na parte superior do peito e outra na coxa direita
— feridas, pensou Natalie, que teriam sido fatais a um homem comum, mas não para ele.
Ele era bastante grande e tinha uma constituição física poderosa.
Ele é tudo o que se poderia esperar...
— Quem é? — perguntou ela logo depois.
— Não tem importância — respondeu o iraquiano. — A única coisa importante é
que ele sobreviva. Você não pode deixá-lo morrer.
Natalie pegou seu abaya, agachou ao lado da maca e esticou a mão em direção à ferida
no peito. Imediatamente, um dos soldados agarrou seu pulso. Desta vez, o toque não era
gentil; era como se os ossos dela estivessem prestes a quebrar. Ela fitou o soldado,
repreendendo-o em silêncio por ousar tocar nela, uma mulher que não era parente dele,
e depois fitou o iraquiano com o mesmo olhar. Ele acenou com a cabeça uma vez, o
toque afrouxou. Natalie saboreou sua pequena vitória. Pela primeira vez desde que
chegara à Síria, sentia-se poderosa. Naquele momento, pensou, era dona deles.
Ela esticou a mão em direção à ferida novamente, sem ser incomodada, e pôs a veste
preta rasgada de lado. Era uma ferida grande, cerca de cinco centímetros na parte mais
larga, com as bordas irregulares. Algo quente e dentado entrara no corpo dele a uma
velocidade extremamente alta e deixara um rastro de danos horríveis — ossos
quebrados, tecido rasgado, vasos sanguíneos dilacerados. A respiração dele era
superficial e fraca. Era um milagre ainda estar respirando.
— O que houve?
Silêncio.
— Não posso ajudar se não souber como ele se feriu.
— Ele estava numa casa que foi bombardeada.
— Bombardeada?
— Foi um ataque aéreo.
— De drone?
— Muito maior que um drone — ele falava como se por experiência própria. — Nós
o encontramos embaixo dos escombros. Estava inconsciente, mas respirando.
— E nunca parou?
— Não.
— E recuperou a consciência alguma vez?
— Nem por um momento.
Ela examinou o crânio, coberto de cabelo negro e grosso. Não havia lacerações nem
contusões aparentes, mas isso não queria dizer nada; ainda era possível que houvesse

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