trauma cerebral grave. Ela levantou a pálpebra do olho esquerdo, depois a do direito. As
pupilas estavam responsivas, um bom sinal. Será que era mesmo? Ela soltou a pálpebra
direita.
— A que horas isso aconteceu?
— A bomba caiu logo depois da meia-noite.
— Que horas são agora?
— Dez e quinze.
Natalie examinou a ferida aberta na perna. Um caso desafiador, para dizer o mínimo,
pensou ela, com distanciamento. O paciente estava em coma há dez horas. Sofrera duas
feridas profundas graves, para não falar da probabilidade de várias outras fraturas e
lesões por esmagamento, comuns em vítimas de colapsos de prédios. Sangramentos
internos eram garantidos. A sepse estava o rondando. Se fosse para ele ter chance de
sobreviver, deveria ser transportado para um centro de trauma nível 1 imediatamente,
um cenário que ela explicou ao iraquiano com a garra.
— Sem chance nenhuma — respondeu ele.
— Ele precisa de cuidados críticos de urgência.
— Não estamos em Paris, dra. Hadawi.
— E onde estamos?
— Não posso dizer.
— Por que não?
— Por questões de segurança — explicou ele.
— Estamos no Iraque?
— Você faz perguntas demais.
— Estamos? — insistiu ela.
Com o silêncio, ele confirmou que sim.
— Tem um hospital em Ramadi, não tem?
— Não é seguro para ele.
— E em Faluja? — ela não acreditava que aquela palavra tinha saído de sua boca.
Faluja...
— Ele não vai a lugar nenhum — disse o iraquiano. — Este é o único lugar seguro.
— Se ele ficar aqui, vai morrer.
— Não vai, não — disse o iraquiano. — Porque você vai salvá-lo.
— Com o quê?
Um dos soldados entregou a ela uma caixa de papelão com uma cruz vermelha na
tampa.
— É um kit de primeiros socorros.
— Só temos isso.
— Tem um hospital ou uma clínica perto?
O iraquiano hesitou, depois disse:
— Mosul fica a uma hora de carro, mas os americanos estão atacando os veículos nas
estradas.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1