— Qual resposta você quer ouvir?
— A verdade.
— A verdade — falou Natalie — é que ele provavelmente vai morrer.
— Se ele morrer — respondeu o iraquiano, friamente —, você vai morrer logo
depois.
Natalie ficou em silêncio. O iraquiano olhou para o outrora poderoso homem
coberto de branco.
— Faça tudo o que puder para ele acordar — disse. — Mesmo que seja por um ou
dois minutos. É essencial que eu consiga falar com ele.
Mas por quê?, pensou Natalie enquanto o iraquiano saía do quarto. Porque o
iraquiano não sabia o que Saladin sabia. Porque se Saladin morresse, a rede morreria
com ele.
Com a cirurgia completa, Natalie obedientemente se cobriu com o abaya, para que o
grande Saladin não acordasse e encontrasse uma mulher sem véu em sua presença. Ela
pediu um relógio para monitorar adequadamente a recuperação do paciente e recebeu o
Seiko digital do próprio iraquiano.
Ela checava o pulso e a pressão de Saladin a cada trinta minutos e registrava o fluxo
de soro intravenoso. O pulso ainda estava rápido e fraco, mas a pressão estava
aumentando continuamente, um sinal positivo. Sugeria que não havia outras fontes de
sangramento interno e que o soro estava ajudando a aumentar o volume de sangue.
Ainda assim, ele continuava inconsciente e não respondia a estímulos suaves. Os
prováveis culpados eram a imensa perda de sangue e o choque que ele sofrera depois de
ser ferido, mas Natalie não podia descartar um trauma cerebral. Uma tomografia
revelaria evidências de sangramento e inchaço, mas o iraquiano deixara claro que Saladin
não podia sair dali. Não que fizesse diferença, pensou Natalie. Em uma terra onde o pão
era escasso e as mulheres carregavam água do Eufrates, as chances de encontrar um
scanner funcionando eram quase zero.
Um par de soldados permanecia sempre no cômodo, e o iraquiano aparecia mais ou
menos a cada hora para olhar o homem prostrado no chão, como se estivesse tentando
fazê-lo voltar à consciência com a força do pensamento. Durante a terceira visita, Natalie
cutucou a orelha de Saladin e puxou os pelos grossos da barba dele, mas não houve
reação.
— Você precisa mesmo fazer isso? — perguntou o iraquiano.
— Sim — respondeu Natalie. — Preciso.
Ela beliscou o dorso da mão dele. Nada.
— Tente falar com ele — sugeriu ela. — Uma voz familiar ajuda.