não apenas como uma falha de inteligência, mas também como uma derrota pessoal.
Naquela tarde, com a capital francesa em polvorosa, ele ligou para o chefe da DGSI a fim
de oferecer sua demissão. O chefe, é claro, recusou.
— Mas, como punição — disse —, você vai encontrar o monstro responsável por
esse ultraje e me trazer a cabeça dele em uma bandeja.
Rousseau não gostou da alusão, pois não tinha intenção nenhuma de emular a
conduta das próprias criaturas contra quem lutava. Mesmo assim, ele e sua unidade se
lançaram à tarefa com uma devoção que só encontrava par no fanatismo religioso de seus
adversários. A especialidade do Grupo Alpha era o que havia de humano nesses grupos,
e foi com os humanos que eles buscaram informações. Em cafés, estações de trem e
becos por todo o país, os oficiais de Rousseau se encontravam secretamente com seus
agentes de infiltração — os pregadores, os recrutadores, os vigaristas das ruas, os
moderados com boas intenções, as almas perdidas de olhar vazio que tinham encontrado
um lar na Umma, a mortífera nação global do islã. Alguns espionavam para apaziguar
sua consciência; outros espionavam por dinheiro. E havia aqueles que espionavam
porque Rousseau e seus agentes não lhes tinham dado nenhuma outra escolha. Ninguém
declarou saber que um ataque estava sendo planejado — nem os vigaristas, que diziam
saber tudo, especialmente quando havia dinheiro envolvido. Nenhum dos informantes
do Grupo Alpha tampouco foi capaz de identificar os dois culpados. Era possível que
estes últimos fossem agentes independentes, lobos solitários, seguidores de um jihad
sem líder que tinham construído uma bomba de quinhentos quilos embaixo do nariz da
inteligência francesa e depois a levaram habilmente até seu alvo. É possível, pensou
Rousseau, mas muito improvável. Em algum lugar, certamente, havia um mentor
operacional, um homem que concebera o ataque, recrutara os agentes e os guiara
competentemente até o alvo. E era a cabeça desse homem que Paul Rousseau entregaria
ao seu chefe.
Assim, enquanto toda a segurança francesa procurava os dois responsáveis pelo
ataque ao Centro Weinberg, o olhar de Rousseau já estava resolutamente fixado em um
ponto distante. Como todos os grandes capitães em tempos de tormenta, ele permaneceu
na proa de seu navio, que, no caso de Rousseau, era seu escritório no quinto andar. Um
ar de bagunça acadêmica pairava no cômodo, junto com o aroma frutado do tabaco do
cachimbo de Rousseau, um hábito que ele se permitia, violando diversos decretos sobre
fumar em escritórios governamentais. Embaixo de suas janelas à prova de balas —
insistência de seu chefe — ficava o cruzamento da rue de Grenelle e da tranquila e
pequena rue Amélie. O prédio em si não tinha entrada de pedestres, apenas um portão
preto que dava para um pequeno pátio e estacionamento. Uma placa de cobre discreta
anunciava que ali ficava algo chamado Sociedade Internacional para a Literatura
Francesa, um toque especialmente rousseauniano. Pelo bem do disfarce da unidade, a
Sociedade tinha uma publicação trimestral de poucas páginas, que Rousseau insistia em
editar pessoalmente. Na última contagem, havia 12 leitores. Todos tinham sido
meticulosamente investigados.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1