A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

O iraquiano se agachou ao lado da maca e murmurou no ouvido de Saladin algo que
Natalie não conseguiu discernir.
— Ajudaria se você falasse de modo que ele conseguisse ouvir. Na verdade, pode
gritar com ele.
— Gritar com Saladin? — O iraquiano balançou a cabeça. — Ninguém pode nem
levantar a voz para Saladin.
Neste ponto, já era o fim da tarde. O raio de luz viajara lentamente pelo cômodo e
agora esquentava o pedaço de chão em que Natalie se sentava. Ela imaginou que Deus
estava observando através do óculo, julgando-a. Imaginou que Gabriel também estava
observando. Em seus mais ousados sonhos operacionais, ele certamente não imaginara
um cenário como este. Ela viu sua volta à casa, um encontro num esconderijo secreto,
um interrogatório tenso durante o qual ela seria forçada a defender sua tentativa de salvar
a vida do terrorista mais perigoso do mundo. Afastou esses pensamentos, pois pensar
assim era perigoso. Ela nunca conhecera um homem chamado Gabriel Allon, lembrou a
si mesma, e não tinha interesse na opinião de seu Deus. Só o julgamento de Alá
importava para Leila Hadawi, e Alá certamente teria aprovado.
Não havia eletricidade na casa, e a caída da noite a mergulhou na escuridão. Os
soldados acenderam lampiões de querosene antigos e os colocaram ao redor do cômodo.
O iraquiano se juntou a Natalie para jantar. A comida era bem melhor que no campo de
Palmira, um cuscuz digno de um café na margem esquerda do Sena. Ela não
compartilhou esse pensamento com seu companheiro de refeição. Ele estava de mau
humor e não era uma companhia particularmente agradável.
— Suponho que você não possa me dizer seu nome — falou Natalie.
— Não — ele respondeu com a boca cheia de comida. — Suponho que não posso.
— Você não confia em mim? Nem agora?
— Confiança não tem nada a ver com isso. Se você for presa quando voltar a Paris
na semana que vem, a inteligência francesa vai perguntar quem você conheceu durante
suas férias no califado. E você vai dar meu nome.
— Eu nunca contaria nada para a inteligência francesa.
— Todo mundo conta — de novo, parecia que ele estava falando por experiência
própria. — Além disso — completou após um momento —, temos planos para você.
— Que tipo de planos?
— Sua operação.
— Quando vou ficar sabendo?
Ele não disse nada.
— E se ele morrer? — ela perguntou, olhando para Saladin. — A experiência vai
seguir em frente?
— Isso não é da sua conta — ele pegou com a mão uma porção do cuscuz.
— Você estava lá quando aconteceu?
— Por que está perguntando?
— Só estou conversando.

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