A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

— No califado, conversar pode ser perigoso.
— Esqueça que eu perguntei.
Ele não esqueceu.
— Cheguei logo depois — disse. — Fui eu que o tirei dos escombros. Pensei que
estivesse morto.
— Houve outras vítimas?
— Muitas.
— Tem algo que eu possa...
— Você tem um paciente, e apenas um — o iraquiano fixou os olhos em Saladin. —
Quanto tempo ele pode continuar assim?
— É um homem grande, forte, saudável de resto. Pode demorar muito tempo.
— Há algo mais que você possa fazer para acordá-lo? Uma injeção de alguma coisa?
— A melhor coisa a fazer é falar com ele. Fale alto o nome dele. Não o nom de guerre
— explicou ela. — O nome verdadeiro. O nome pelo qual a mãe dele o chamava.
— Ele não tinha mãe.
Com essas palavras, o iraquiano foi embora. Uma mulher levou o cuscuz e trouxe
chá e baklava, uma iguaria inédita no califado. Natalie checava o pulso, a pressão e a
função pulmonar de Saladin a cada trinta minutos. Todos mostraram sinais de melhora.
O batimento cardíaco dele estava mais lento e mais forte, a pressão subia, o pulmão
direito ficava mais limpo. Ela checou também os olhos com a luz de um isqueiro de
butano — primeiro o olho direito, depois o esquerdo. As pupilas ainda estavam
responsivas. O cérebro, independentemente do estado dele, estava vivo.
À meia-noite, cerca de vinte e quatro horas depois do ataque aéreo americano, Natalie
estava precisando desesperadamente de algumas horas de sono. A luz do luar brilhava
fria e branca através do óculo, o mesmo luar que iluminara as ruínas de Palmira. Ela
checou o pulso, a pressão e os pulmões. Todos estavam progredindo bem. Então,
checou os olhos com a luz azulada do isqueiro de butano. O olho direito, depois o olho
esquerdo.
Os dois continuaram abertos depois do exame.
— Quem é você? — perguntou uma voz de força e ressonância impressionantes.
Assustada, Natalie teve de se recompor antes de responder.
— Meu nome é dra. Leila Hadawi. Estou cuidando de você.
— O que aconteceu?
— Você ficou ferido em um ataque aéreo.
— Onde estou agora?
— Não sei dizer.
Ele ficou confuso por um momento. Então, entendeu. Exausto, perguntou:
— Onde está o Abu Ahmed?
— Quem?
Cansado, ele levantou a mão esquerda e fez uma garra de lagosta com seu dedão e seu
indicador. Natalie não conseguiu evitar um sorriso.

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