–V
PROVÍNCIA DE ANBAR, IRAQUE
ocê é minha Maimônides.
— Quem?
— Maimônides. O judeu que cuidava de Saladin sempre que ele estava no Cairo.
Natalie ficou em silêncio.
— Foi um elogio. Devo minha vida a você.
Saladin fechou os olhos. Era o fim da manhã. O círculo de luz do óculo acabara de
iniciar sua lenta jornada pelo chão vazio, e o cômodo ainda estava agradavelmente fresco.
Depois de recuperar a consciência, ele passara uma noite tranquila, graças, em parte, à
dose de morfina que Natalie adicionara ao soro. No início, ele recusou a droga, mas
Natalie o convenceu de que era necessária.
— Você não vai conseguir se curar direito se estiver com dor — ralhara ela. — Pelo
bem do califado, é preciso.
Mais uma vez, ela não conseguia compreender como aquelas palavras tinham passado
por seus lábios. Colocou o ressonador do estetoscópio no peito dele. Ele se encolheu
levemente por causa do frio.
— Ainda estou vivo? — perguntou.
— Fique em silêncio, por favor. Não consigo ouvir direito se você falar.
Ele não disse mais nada. Seu pulmão direito soava como se tivesse recuperado a
função normal; os batimentos cardíacos pareciam estáveis e fortes. Ela prendeu a
braçadeira do medidor de pressão na parte superior do braço esquerdo dele e a inflou
apertando a bomba rapidamente várias vezes. Ele fez uma expressão de dor.
— O que foi?
— Nada — disse, com os dentes cerrados.
— Está com dor?
— Nem um pouco.
— Diga a verdade.
— O braço — admitiu ele depois de um momento.
Natalie soltou a pressão, removeu a braçadeira e, suavemente, apertou o braço com
as pontas dos dedos. Ela notara o inchaço na noite anterior e suspeitara de uma fratura.
Agora, com a ajuda de seu paciente consciente, praticamente confirmava isso.
— A única coisa que posso fazer é imobilizar.
— Talvez seja bom.